Hell Is Us – Análise

Douglas Souza Dos Santos (@Cliffburtonildo1)
Douglas Souza Dos Santos (@Cliffburtonildo1)

Desenvolvido pela Rogue Factor e publicado pela NACON, Hell Is Us é um jogo de ação e aventura que traz como ideia central a sua exploração, onde aborda o “Player-Plattering”, que incentiva o jogador a seguir seu instinto em vez de depender de marcadores na tela, trazendo à tona toda aquela experiencia única de exploração às cegas que só a quinta e sexta geração de consoles foi capaz de nos proporcionar. Vamos juntos nesta análise investigar e explorar totalmente a cidade de Hadea e os mistérios que ela guarda.

A bússola é o caminho

Em Hell Is Us, assumimos o papel de Rami, um soldado da Tropa da Paz que cai nas mãos de uma poderosa corporação. Durante um interrogatório conduzido por um de seus líderes, Rami é forçado a recontar, passo a passo, os acontecimentos em Hadea que acabaram culminando em algo muito maior do que ele poderia imaginar. Para extrair cada detalhe de Rami, a corporação recorre a um polígrafo aliado a um soro da verdade – e é nesse ponto que nossa jornada começa, com Rami contando toda sua trajetória em Hadea.

Guiado por vínculos pessoais e marcado por feridas do passado, Rami parte em busca de respostas sobre sua família. Sua motivação mais profunda é compreender por que foi abandonado pela mãe aos cinco anos de idade, junto da ordem de jamais retornar a Hadea.

O jogo aborda muito bem o tema de guerra civil, apresentando sem filtros a brutalidade e o caos de um conflito moderno. A narrativa destaca o impacto devastador dos confrontos constantes entre Sabinianos e Palomistas, transmitindo com clareza o peso e a crueldade dessa terrível disputa.

A faceta de uma guerra / Reprodução: Autor

Que o olho dele nos proteja

Hell Is Us tem como seu maior diferencial sua exploração, onde o jogo não possui mapa ou indicadores, trazendo aquela sensação única de liberdade, podendo ir e vir a qualquer momento sem amarras. De início, o jogo revela que seu foco está na investigação e resolução de puzzles, fazendo isso com maestria, já que cada detalhe obtido é importante para a resolução de alguns quebra-cabeças e para a nossa investigação. Fazia muito tempo que eu não me deparava com um jogo com essa proposta. O interessante em Hell Is Us é a forma como ele introduz os puzzles gradualmente, começando com desafios visuais simples e, pouco a pouco, evoluindo para enigmas baseados em sons e diferentes perspectivas. Para mim, essa progressão está entre os maiores pontos fortes do título.

O sistema de combate de Hell Is Us pode até parecer simples à primeira vista, mas apresenta algumas mecânicas interessantes que fogem do convencional. Uma delas é o sistema de resistência, onde à cada medida que o personagem recebe golpes, não apenas sua vida diminui, como também sua barra de vigor máximo é reduzida, obrigando o jogador a adotar uma postura mais agressiva. Esse recurso se conecta diretamente ao chamado pulso curativo, onde sempre que o personagem acerta um inimigo, partículas surgem em volta dele em forma de anel que, quando consumidas, é possível ativar o pulso curativo, restaurando a vida proporcional à porcentagem de dano causado nos inimigos pelos seus golpes anteriores. Essas duas mecânicas acabam sendo os grandes destaques do combate, já que, no geral, o combate não recebeu tanta atenção, deixando muito a desejar neste aspecto.

Junto ao combate, o jogador também conta com um drone de suporte, que possui múltiplas funções, como escanear itens, iluminar áreas escuras e oferecer auxílio durante as batalhas. Porém, o drone atua mais como um suporte, servindo apenas para complementar o combate mediano de Hell Is Us. Suas habilidades são desbloqueadas por meio de módulos encontrados nos cenários, que concedem recursos simples como pulsos que atordoam inimigos, campos protetores que aumentam a resistência do personagem ou até bônus temporários de velocidade.

No entanto, um dos maiores problemas de Hell Is Us está na variedade de inimigos. Ao longo do jogo, enfrentamos basicamente dois tipos principais de inimigos: os hollow walkers e wazes – aqueles seres pálidos já revelados durante a divulgação do jogo. Além de algumas poucas variações entre eles, também há os inimigos conectados por um cordão umbilical, mas que oferecem pouca resistência e estão ali mais para atrasar o jogador do que para representar um desafio real. Essa limitação faz com que o combate rapidamente se torne repetitivo. Apesar de existirem algumas habilidades pontuais que trazem certa diversão ao jogador, a sensação de fadiga surge logo nas primeiras horas de jogo, fazendo com que você fuja de muitas lutas só pelo fato da repetição incessante.

Por outro lado, Hell Is Us se destaca pela forma inventiva como trabalha a exploração e a resolução de puzzles. A cada diálogo ou descoberta sobre um personagem ou cenário, o jogo desperta a curiosidade do jogador e o incentiva a se aprofundar ainda mais no mundo apresentado. Um dos grandes acertos é o sistema de banco de dados investigativo, estruturado como uma árvore criminal – personagens, objetos e locais são conectados entre si, criando uma teia de relações que enriquece a narrativa e deixa a investigação muito mais dinâmica. Além disso, o título faz uso constante do backtracking, exigindo atenção redobrada aos itens coletados e transformando a exploração em uma experiência fluida e recompensadora.

Esse diagrama enriquece ainda mais os detalhes e informações em Hell is Us / Reprodução: Autor

Um propósito imperecível

Os inimigos apresentam um design marcante, transmitindo uma sensação de desconforto e fobia com suas formas distorcidas, sem rosto e com proporções bizarras, que fogem completamente da anatomia humana, reforçando o clima perturbador do jogo. A trilha sonora, embora constante, cumpre apenas um papel funcional, sem se destacar de maneira significativa durante combates ou momentos de exploração. Já algumas animações de execução parecem inacabadas, com movimentos truncados que prejudicam a imersão.

Sinto que a ausência de um mapa incentiva uma exploração mais profunda e atenta, funcionando como um diferencial da experiência. O level design é um dos pontos fortes, com cenários imponentes e bem planejados, que instigam o jogador a avançar por conta própria, guiado tanto pela curiosidade quanto pela bela estrutura criada para este mundo.

As vezes as investigações não saem como planejado / Reprodução: Autor

Conclusão

Hell Is Us se destaca em sua atmosfera, história e na sua resolução de mistérios e quebra-cabeças, no entanto, a repetição constante dos mesmos inimigos pode tornar a experiência em combate um pouco cansativa. A cada avanço na história você fica se perguntando: de onde veio essas criaturas? Por que estão aqui? Qual o propósito delas? Esses questionamentos são respondidos conforme você se dedica em cada investigação e exploração. Fica nítido que Hell Is Us não é um título para todo mundo, mas é uma boa escolha pra quem busca experienciar uma ideia diferente do habitual da indústria, fazendo a curiosidade do jogador florescer com toda a sua ótima atmosfera implementada.

Para quem procura um título centrado em combates intensos, Hell Is Us provavelmente irá decepcionar, mas, para aqueles que querem explorar uma proposta diferente do cenário de jogos AA atualmente, é possível encontrar uma boa experiência aqui.

Esta análise é baseada na cópia de PC fornecida pela Nacon e MKTR Agency.

Hell is Us
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