Desenvolvido pela pequena equipe mexicana da Oribe Ware Games, Mostroscopy é um jogo de luta simplista, claramente inspirado nos filmes mexicanos de horror e Luchador de tempos antigos. Com um elenco formado por monstros e lutadores mascarados, o game agora chega ao PlayStation 5 e Nintendo Switch com o apoio da publisher Seashell Studios – tornando-se, enfim, acessível em todas as plataformas atuais. Mas será que esse título peculiar tem o potencial de virar um clássico cult dos jogos de luta ou não passa de uma curiosidade esquecível? Vamos descobrir juntos nesta análise!
Tentando contar uma história
A campanha de Mostroscopy segue o padrão clássico dos jogos de luta: no modo arcade, escolhemos qualquer personagem e enfrentamos uma sequência de seis oponentes, culminando em uma batalha contra um chefão não jogável. Cada jornada é iniciada com uma breve introdução e finalizada com um quadro em estilo HQ, encerrando a narrativa.
No entanto, as histórias são bastante esquecíveis. As falas entre as lutas raramente fazem sentido e são geralmente desconexas, o que lembra os diálogos dos jogos antigos do gênero. Em alguns casos, nem mesmo o desfecho se alinha com o que foi apresentado. Um exemplo é El Fausto, que começa tentando desfazer um pacto com o Diabo e termina… fazendo uma parceria com o chefão final, Starman. Sentido? Nenhum.
A tradução para o português também deixa a desejar. Algumas frases são mal adaptadas e tornam-se confusas, o que acabou me levando a trocar o idioma para o inglês – e, de fato, a compreensão melhorou bastante. Ver nosso idioma em um jogo é sempre um ponto positivo, mas, nesse caso, talvez fosse melhor deixar de lado em prol da clareza.

Preparados, luchadores?
No combate, Mostroscopy adota uma estrutura simples. Usamos três botões principais: ataque normal, ataque especial e defesa. A variedade de golpes se expande nos ataques especiais, que exigem pressionar e segurar o botão de ataque especial (Y no controle do Xbox), combinado com uma direção (esquerda, direita ou baixo). Isso transforma dois ataques básicos em cinco possibilidades. Também é possível realizar uma versão simplificada do especial com um simples toque no botão.
O elenco é bem variado e recheado de referências à cultura mexicana, com figuras como El Charro Negro, La Llorona e Chamazotz. Há também personagens curiosos, como Kitty, uma “lobismulher” com… peitos. O equilíbrio, como é comum em jogos de baixo orçamento, é quase inexistente – alguns personagens são nitidamente superiores, como Toshiro Murayama, Mujer Vampira e La Llorona, alguns dos meus favoritos.

O jogo ainda conta com o Mostro Mode, uma mecânica que levei um bom tempo para descobrir, já que nada no menu explica como ativá-lo – aliás, o jogo nem possui uma lista de comandos durante as lutas, o que é frustrante. Essa barra especial se enche conforme atacamos ou apanhamos. Ao ser completada, pressionamos os botões de ataque normal e especial simultaneamente para liberar uma forma que permite usar ataques especiais sem carregar – algo essencial para virar uma partida.
Além do modo arcade, o menu oferece versus, jukebox – com as “incríveis” músicas do jogo, que comento mais abaixo –, e o modo desafio, onde é preciso executar combos específicos para desbloquear conquistas. Honestamente, sou péssimo nesse modo, mas tenho a impressão de que o próprio jogo não reconhece alguns golpes corretamente, o que torna tudo mais difícil. Ainda assim, é uma boa forma de aprender a jogar.
O modo online também está presente – tecnicamente. Ainda em beta, tentei encontrar partidas, mas segundo o SteamDB, muitas vezes eu era a única pessoa NO MUNDO jogando. Logo, testar esse modo foi impossível. Pelo menos está lá, né?
Se eu dissesse que não me diverti com Mostroscopy, estaria mentindo. Apesar da simplicidade, os combates funcionam. Existem problemas evidentes, como hitboxes esquisitas e desequilíbrio entre os personagens, mas dentro do escopo do jogo, a experiência é surpreendentemente divertida. Completei o arcade com todos os personagens e me peguei querendo mais. Existem opções melhores pelo mesmo preço? Com certeza. Mas não farei juízo de valor aqui.

Como em um filme
A estética de Mostroscopy é um dos seus grandes destaques. Inspirado no cinema mexicano dos anos 50, o jogo apresenta filtros que simulam ranhuras de filme antigo e oferece versões em preto e branco ou coloridas dos cenários. É um toque ousado, que funciona dentro da proposta – embora jogar em preto e branco possa ser meio deprê.
Infelizmente, a parte sonora não acompanha a mesma qualidade visual. A trilha sonora muitas vezes sobrepõe os efeitos, mesmo com ajustes de volume. Algumas vozes, como a de Toshiro Murayama, são quase inaudíveis, abafadas e mal mixadas. E a trilha, apesar de temática, saiu diretamente de bancos de áudio gratuitos – o lendário Kevin MacLeod marca presença.
Embora o visual cause estranheza inicial, Mostroscopy é diferenciado, e aprecio sua estética. A inspiração no cinema mexicano e o uso de personagens baseados em luchadores e lendas locais tornam o game uma experiência bem diferente do tradicional. Optar por quadrinhos como forma de contar a história, embora não seja uma grande novidade, calhou bem, combinando com a proposta do jogo. Ponto para os desenvolvedores, que conseguiram fazer toda essa bagunça funcionar!

Você precisa entender o conceito (ou não)
Mostroscopy é um dos jogos mais aleatórios que joguei nos últimos tempos. Tem cara e alma de projeto independente, com uma jogabilidade limitada e apresentação questionável, mas que ainda assim consegue ser divertida. Sua estética única e suas referências culturais são um charme à parte, mesmo que exageradas. Nem tudo funciona: a falta de balanceamento, os problemas na tradução, a trilha sonora fraca e a história desconexa podem afastar muitos jogadores. Mas há algo de especial aqui – um esforço sincero de criar algo diferente. E isso merece reconhecimento.
Esta análise é baseada na cópia de PC fornecida pela Oribe Ware Games.