No Rest for the Wicked é o mais recente título da Moon Studios, os criadores dos aclamados Ori and the Blind Forest e Ori and the Will of the Wisps. Lançado em acesso antecipado, o jogo promete oferecer uma experiência de RPG de ação que demanda alta precisão do jogador, ambientado em uma ilha assolada por conflitos e pela Pestilência. Inicialmente, podemos confirmar que a Moon Studios conseguiu proporcionar uma experiência intrigante e diferente de seus trabalhos anteriores, embora com alguns problemas irritantes ao longo da jornada.
Diablo com Dark Souls
Para a felicidade (ou decepção) de muitos, No Rest for the Wicked segue o estilo Souls-like. Embora tenha sido inicialmente apresentado como um RPG de ação, é inegável que a Moon Studios se inspirou bastante na fórmula de Dark Souls e outros jogos similares. No entanto, apesar da jogabilidade semelhante, existem aspectos que distinguem o jogo da franquia Souls. Um desses aspectos é a ausência de classes, substituídas por um sistema de peso que varia entre leve, normal e pesado, dependendo dos equipamentos utilizados. Isso permite ao jogador executar um dash (no caso de peso leve) ou rolar (para os pesos normal e pesado).
Outra característica diferente é o método de recuperação de vida através da alimentação. Os recursos podem ser encontrados no cenário, como coletar carne de animais abatidos ou pescar (embora não seja um minigame, e sim algo simplificado). Todos esses recursos podem ser transformados em alimentos nas fogueiras encontradas pelo caminho, sendo a principal fonte de vida durante toda a gameplay. Apesar da variedade relativa de alimentos disponíveis, pessoalmente optei sempre pelos dois iniciais, que, embora não restaurassem tanta vida no final do jogo, eram fáceis de produzir e atendiam bem às minhas necessidades.
Assim como há recursos para a produção de alimentos, também existem recursos para construção em No Rest for the Wicked. Os jogadores podem coletar madeira, minerar e até mesmo escavar buracos em busca de itens. Esses recursos podem ser utilizados para realizar melhorias na cidade de Sacramento ou para a produção de itens para nossa casa, uma mecânica que é desbloqueada após completar uma missão relativamente longa. Infelizmente, o tempo necessário para concluir as melhorias na cidade é baseado na vida real, e muitas construções levam até 4 horas para serem concluídas, o que pode ser considerado excessivo.
Uma mecânica que inicialmente desagradou a comunidade, mas que foi aprimorada por meio de atualizações, é a durabilidade dos equipamentos. Ao contrário de Dark Souls, onde se perdem almas ao morrer, em No Rest for the Wicked, perdemos a durabilidade de nossas armas e equipamentos. A reclamação inicial era de que o custo para reparar os equipamentos era muito alto, porém, joguei após a aplicação da primeira atualização e não tive problemas quanto a isso. Considero essa uma mecânica interessante, pois incentiva o jogador a gerenciar a durabilidade dos equipamentos, especialmente se não estiver em um bom momento para realizar os reparos.
Por fim, o jogo apresenta um elemento que inicialmente me desagradou, mas que se revelou interessante ao longo da jogabilidade: a verticalidade. O mapa de Isola Sacra está repleto de subidas e descidas, seja através do próprio terreno, de escadas ou escaladas por meio de vinhas (uma mecânica semelhante à dos Zeldas mais recentes). Embora possa parecer estranho e desconexo com o estilo do jogo no início, ao avançar nas missões, torna-se evidente a intenção da Moon Studios, sendo um estilo de jogabilidade que se encaixa muito bem com alguns puzzles encontrados em nossa jornada.
Decisões duvidosas
Muitos elementos na gameplay nem sempre significam qualidade, e é neste ponto que No Rest for the Wicked escorrega. Compreendo perfeitamente a decisão de adotar um estilo de RPG de ação com combate similar ao de Dark Souls, e até mesmo elogio isso, pois foi executado com maestria, conquistando até mesmo eu, que não sou fã de jogos do tipo Souls-like. No entanto, algumas decisões ainda me deixam “mais pra lá do que pra cá”.
Por exemplo, não vejo sentido na mecânica de cozinhar alimentos ou na coleta de recursos no mundo do jogo. Sinto que são elementos completamente substituíveis e que não se encaixam bem no gênero de No Rest for the Wicked, seja no aspecto de RPG de ação ou no estilo Souls-like. Em diversos momentos da minha jornada, parecia que me distraí coletando recursos para aprimorar a cidade de Sacramento, quando poderia estar me dedicando a atividades mais relevantes.
Outro aspecto um tanto quanto decepcionante são as caçadas e desafios. Basicamente, há um NPC que oferece caçadas e desafios que são renovados diariamente e semanalmente, servindo principalmente como uma oportunidade para ganhar mais dinheiro ou obter novos equipamentos (que são bem ruinzinhos, no geral). O problema é que as missões são extremamente genéricas, consistindo em tarefas como “vá até lá e colete tantos cogumelos” ou “vá até aquela área e mate tal inimigo”. Apesar do dinheiro ser uma recompensa interessante, essas missões são muito simples e contribuem pouco para a experiência do jogo.
Apesar de ter elogiado anteriormente a verticalidade do mapa, há algumas áreas que precisam de melhorias. Podemos saltar entre vãos se segurarmos o botão de correr, mas muitas vezes esses saltos são imprecisos ou não conseguimos alcançar a borda na primeira tentativa. Além disso, há momentos em que devemos atravessar caminhos estreitos, como tábuas, que se tornam relativamente frustrantes devido ao controle impreciso, exigindo muita calma para evitar quedas.
Bonito, mas roda mal
É inegável o quão belo No Rest for the Wicked é. O estilo artístico escolhido é incrível, lembrando muito uma pintura que ganhou vida. A iluminação e as sombras são muito bem trabalhadas, lembrando em certa medida o que já vimos em Ori, porém de forma ainda mais impressionantes. Observar o nascer do sol nos arredores de Sacramento é simplesmente uma das cenas mais deslumbrantes que já presenciei em 2024.
Infelizmente, No Rest for the Wicked apresenta alguns problemas relacionados ao acesso antecipado, sendo um deles particularmente preocupante: a otimização. O desempenho do jogo é bem precário, sendo quase impossível manter uma taxa de quadros acima dos 40 no meu PC. Além disso, há vários problemas de engasgos e carregamento de texturas durante a gameplay, mesmo com o jogo instalado em um SSD. Outra questão é a falta de opções gráficas, com apenas presets padrões disponíveis para seleção. As tecnologias AMD FSR ou NVIDIA DLSS também não estão presentes no lançamento, sendo utilizado apenas uma sistema de resolução dinâmica.
Apesar disso, a Moon Studios está mantendo um ritmo impressionante de atualizações neste início de vida do jogo. Em apenas cinco dias, No Rest for the Wicked já recebeu 4 atualizações, proporcionando diversas correções, desde melhorias na qualidade de vida até reequilíbrios no combate. Isso inclui também a otimização mencionada anteriormente, que estava consideravelmente pior nos primeiros dias. Embora discorde do estado em que o jogo foi lançado, isso demonstra o comprometimento do estúdio em tornar a experiência mais agradável para todos o mais rápido possível.
Um diamante bruto com muito potencial
No Rest for the Wicked é um jogo complicado de se analisar. Não posso negar que me diverti durante minhas mais de 20 horas de gameplay até completar o Capítulo 1, o único disponível até o momento. No entanto, suas decisões duvidosas e os problemas trazidos pelo acesso antecipado tornaram a experiência um tanto quanto divisiva. Enquanto me envolvia com o combate e a exploração, também me frustrava com quedas aleatórias de framerate e a necessidade constante de coletar recursos. A sensação que fica é de que a Moon Studios tem um diamante bruto em suas mãos, que precisa ser cuidadosamente lapidado até alcançar sua versão final. Nota final: 7.0/10.
Prós:
- Gameplay
- Exploração
- Gráficos e direção artística
- Verticalidade do mapa
- Sistema de “classes” por peso
Contras:
- Busca por recursos
- Missões de caçada
- Controles poderiam ser um pouco mais precisos
- Otimização tenebrosa
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No Rest for the Wicked (Acesso antecipado): Certamente um jogo com grande potencial e o que faz certo ele faz muito bem. Mas definitivamente saiu antes do que deveria. Mais um tempo no forno faria muito bem ao jogo. Veremos o que o futuro reserva. – budabyte