Player bom é player burro

Lucas Rodrigues
12 min de Leitura

 

Na volta do Objection, temos um texto da nossa nova colunista, Vanessa.

Aqui, ela faz suas observações sobre a rivalidade Xbox One X PlayStation 4 de uma perspectiva um pouco diferente.

O texto foi publicado originalmente no blog Game Sessions

Oi pessoa que lê.

Resolvi escrever esse artigo porque essa situação já estava engasgada na minha garganta desde a E3. Estive conversando com amigos por aí, mas ninguém que realmente entenda o rage, então espero que soltando isso pro mundo, alguém me diga que não estou sozinha.

O fato é que, desde a fatídica E3 desse ano a postura da Sony com relação ao PS4 e as políticas de mercado pelas quais eles optaram vêm me indignando bastante. Só uma coisa me deixa mais estarrecida: todo mundo aceitando de boa, tipo gansos sendo preparados pra foie grás. Os brasileiros, por exemplo, só se mexeram pra reclamar quando souberam que o PS4 custaria R$ 4k. Na verdade, parece que todo mundo se incomoda com isso, apenas.

Vamos voltar lá na conferência da Microsoft, em 21 de maio de 2013. Me lembro que estava no trabalho, comendo hambúrguer com meu melhor amigo, tomando refrigerante e prestando atenção em cada palavra, ficando perplexa com quão interessantes eram as integrações com TV, a sensibilidade melhorada do Kinect, o novo joystick. Nem me liguei que a conferência tinha sido mais sobre recursos multimídia que outra coisa, simplesmente porque eu só conseguia pensar o quão animal seria poder adaptar tudo aquilo num game RPG, multiplayer ou afim. Cara, se ele já tem esses recursos só pra assistir TV, imagina o que as produtoras podem fazer com isso!

No dia seguinte, montagens e montagens floodaram minha timeline. Os executivos da Microsoft em cortes secos, mostrando quantas vezes falaram a palavra “TV” durante o discurso. Honestamente, não consegui compreender por que cargas d’água aquilo era ridículo. Pra piorar, a Sony havia lançado um teaser, mostrando relances rápidos do visual do PS4. Os comentários só podiam ser comparados a garotinhas ovulando por membros de boyband. Acredite, eu sei do que estou falando.

“PS4: isso é que é videogame de verdade”

“Olha que coisa ridícula essa caixa quadrada, aff… demitiram o designer?”

Eu poderia argumentar dizendo que o nome do produto é XBOX, mas vou me abster porque confio na inteligência das pessoas. O caso é que todo mundo comentava sobre um produto que nem haviam visto ainda. Comentavam, não, porque comentar é outra coisa. Estavam destruindo o XOne antes mesmo de refletir sobre o assunto e sobre as melhorias possíveis aos próprios games, um dia depois de terem anunciado o coitado. Relevei.

Seguiram-se os dias à espera da E3, onde todo mundo poderia finalmente ver o que a Sony tanto escondia. Microsoft abriu as conferências e focou inteiramente no quesito “console” já que a conversa “olha que bacana seria se o seu videogame acessasse internet de 30 formas diferentes, te conectasse com pessoas de 25 outras formas, tivesse multifunção e, ainda por cima, rodasse jogos de última geração” não colou. No final, o que todo mundo queria saber: preço. $ 499. Razoável.

Conferência da Sony. Mencionei começou quase 40 minutos atrasada e ninguém deu uma explicação? Tá, não importa. Qual não seria a surpresa mundial em saber que o PS4 também era quadrado e robusto, só que em pé. Não podemos esquecer do efeito itálico também, porque, meu amigo, isso sim é um diferencial. Após as demonstrações das novas atribuições do Move do Playstation Eye (que não aconteceram), passamos ao teste de imagem, rodando Assassin’s Creed: Blackflag. O lag certamente deveria ser dos telões gigantes, testados à exaustão pelos técnicos, porque o PS4 não falha. E quando travou tudo nesse trailer, bem na hora da frase chave, proferida pelo Barba Negra? Momentos de tensão. Eu estava vendo de casa e podia sentir a faca serrilhando o pescoço de alguém. Solucão? Corta tudo, música de entrada da próxima atração. Mais uma vez, nenhuma satisfação. Conversa daqui, valoriza os exclusivos dali… eu quero é ó, preço! A incrível bagatela de $ 399. Mais barato que o XOne?! Pronto, o mundo veio abaixo.

“Não só é melhor como é mais barato!”

“#chupacaixista!”

“queremos um videogame, não uma estação multimídia”

O maior debate de todos, porém, ainda estava pra começar. Retrocompatibildade e jogos usados.

Microsoft anuncia que o XOne não vai rodar jogos do Xbox 360. Sony fica em cima do muro, não diz que sim, nem que não, a princípio. Alguns dias e comoções online depois, Sony resolve assumir uma posição e diz que vai sim, aceitar jogos do PS3 no novo console.

“#chupacaixista!”

A minha questão com esse texto não é proteger A ou B, até porque nessa briga não escolho lados. Provavelmente eu vou comprar os dois consoles alguma hora e vou aproveitar o que ambos têm pra me oferecer. A minha maior questão, a questão que eu não consigo entender é: quando foi que jogar sujo virou uma coisa aceitável?

A coletiva da Sony atrasou porque, provavelmente, eles juntaram um pedaço de cada uma das 400 opções que eles tinham à disposição, montadas para desarmar a Microsoft de pronto, no palco mesmo, passando a impressão de que eles, fodas como são, já haviam pensado em todas as situações que poderiam afligir os gamers e trabalhado arduamente para que esses problemas não fossem experimentados com o PS4. Na verdade, um time de asiáticos (não tem outra explicação) estava anotando tudo que deveria ser rebatido, pra ter uma conferência vitoriosa. Pena, Microsoft. The perks of being o primeiro a se apresentar.

Desonestidade. Essa é a palavra que me vem à mente desde que o PS4 foi anunciado por $399, tendo o consumidor que comprar o Move ($ 40 CADA bastão, atualmente, sendo que a maioria dos jogos não esportivos requer dois por player) e o Playstation Eye ($ 20 atualmente).

Fazendo as contas:

1 PS4                         399

1 PSEye                     20

2 PS Move                80

Total                         499

Gente, me amarrota que eu tô passada! Como assim, com todos os acessórios fica $100 mais caro?!  Que babado! É ridículo, mas ninguém fez essa conta na época. Ninguém pensou que o PS Eye, bem ou mal, não chega ao mindinho do Kinect em termos de captura de movimento e adaptabilidade. E sabe o que é mais interessante? A concorrência, no caso a Microsoft, sabe que seu produto é um grande diferencial e que tem melhor qualidade, mas ainda assim, ainda sendo taxada como Micro$oft, não hesitou em incluí-lo no bundle, por um preço justo. Pra mim, isso chama-se transparência.

Qual foi, afinal, a grande revolução do PS4, em relação ao anterior? Alguém me explique, porque eu não consigo deixar de pensar que a novidade não passa da melhoria nos gráficos e no processamento, coisa inerente a ambas as plataformas. Existe algum fator que realmente justifique todo esse alarde acerca de uma marca que vem contando só a parte boa da história durante todo esse tempo? Não é possível que só eu tenha notado as quatro vezes em que o PS4 travou em sua primeira apresentação, ou as piadinhas direcionadas nos slides e discurso dos apresentadores da Sony ou, ainda, a estratégia de não se pronunciar sobre o assunto até que a própria comunidade consumidora dê seu primeiro ataque à concorrência. Este último fator, inclusive, vem sido orquestrado para parecer com a justificativa de “nós ouvimos vocês jogadores”. Aham. Morde aqui pra ver se sai Coca-Cola. Diversas vezes já me pareceu que eles têm dois discursos prontos, só esperando a oportunidade pra saber qual deles usar e, a partir daí, definir mais políticas. Isso não é ouvir, isso não é competir. Isso não é, e nunca foi, concorrência leal. Pra mim, é o equivalente a jogar Jo Kem Po esperando o movimento do amiguinho pra poder escolher entre suas opções.

Meu objetivo aqui não é justificar políticas empresariais, mas sim apelar para o senso crítico das pessoas, que só se incomodaram quando descobriram que quatro mil Reais por um console é muito caro. A comunicação da Microsoft no início foi extremamente falha, eu concordo. As palavras escolhidas não foram as melhores nas justificativas e explicações acerca do console, tampouco, mas nada disso justifica a onda de ridicularizações acerca do XOne. A empresa voltou atrás em vários recursos que iriam ser disponibilizados e poderiam ter incríveis desdobramentos no futuro, quando as produtoras pudessem enxergar formas de emprega-los aos títulos.

Eu ainda não consegui entender qual o problema do console ter de ficar conectado à internet, se ele não depende disso pra funcionar. Por um acaso, alguém hoje em dia vive sem smartphone?

Estou cansada de debater este assunto, então agora aguardo pelo lançamento dos consoles para a finalização definitiva desse dilema. Estou torcendo para a Microsoft ter truques na manga, só esperando para lança-los, com um grande “eu avisei” ao lado. Eu não acho vergonhoso ser inovador ou forçar a barra rumo ao maior desenvolvimento do mercado e ao aproveitamento de novas alternativas. Não acho vergonhoso fazer o primeiro movimento e assumir riscos. Vergonhoso é só sentir-se agredido por um preço exorbitante, como se, depois disso tudo, os quatro mil fossem o grande problema.

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