Project Eve: você se lembra deste nome? Revelado em 2019, o título desenvolvido pela sul-coreana Shift Up capturou minha atenção instantaneamente. Desde então, passei a acompanhar o projeto de perto – que, futuramente, viria a se chamar Stellar Blade. Agora, após um ano de exclusividade no PlayStation 5, o game finalmente chega ao PC com diversas melhorias tradicionais da plataforma. Durante todo esse tempo, consegui manter Stellar Blade fora dos meus holofotes, fugindo de spoilers. Vem comigo conferir essa pérola da PlayStation em mais uma análise!
O que é ser humano?
A trama de Stellar Blade nos transporta para um futuro distante, onde a humanidade foi expulsa da Terra por criaturas misteriosas e hostis conhecidas como Naytibas. A protagonista, Eve, é integrante da 7ª Unidade Aérea, enviada do espaço para retomar o planeta. Sua missão principal consiste em eliminar o Naytiba Ancião, suposta entidade por trás de toda a destruição. Durante sua jornada, Eve encontra Adam, um sobrevivente enigmático que se torna seu guia, e Lily, uma carismática engenheira. Juntos, esse trio desvenda os segredos de Xion – a última cidade humana remanescente – e explora as paisagens desoladas da Terra.
Sinceramente? Eu não esperava muito da história de Stellar Blade antes de jogá-lo. Sempre achei que seria apenas um ótimo jogo de ação – o que já me deixaria satisfeito. Mas ele vai além. O enredo mergulha em questões filosóficas profundas, especialmente a indagação sobre o que significa ser humano, explorando a dualidade entre corpo e mente e a evolução da inteligência artificial. Além disso, há um misterioso arco envolvendo a Mãe Esfera – uma espécie de entidade religiosa – que se desenrola no background e instiga cada vez mais o jogador.

Além da narrativa principal, o jogo também aposta em missões secundárias. Elas são, em sua maioria, simples, mas enriquecem o enredo com informações relevantes. A quantidade de coletáveis espalhados pelos ambientes é insana, e muitos deles complementam a história. Vale a pena ler cada pedacinho de texto encontrado. É um ótimo uso desse recurso, que em muitos jogos existe apenas para encher linguiça.
Porém, nem tudo é perfeito – como era de se esperar. Os personagens presentes em Stellar Blade são pouco desenvolvidos, incluindo o trio principal: Eve, Adam e Lily. Eve, inclusive, tem carisma quase nulo, sendo tão expressiva quanto uma porta. O uso reduzido de cutscenes também prejudica certos momentos importantes da história, que perdem impacto por falta de cinematografia – reflexo do investimento mais modesto, se comparado a grandes produções.
Apesar disso, Stellar Blade entrega uma narrativa competente e oferece múltiplos finais, que variam conforme seu envolvimento com as missões secundárias e coletáveis. Portanto, explore tudo o que puder!
Ação desenfreada
Apesar da história surpreender, é no combate que Stellar Blade realmente brilha. Misturando a precisão de Sekiro: Shadows Die Twice com a fluidez dos hack ‘n’ slash, o jogo oferece um sistema de batalha envolvente, desafiador na medida certa e que exige leitura atenta dos padrões de ataques inimigos.
O combate, de início, aparenta ser simples, oferecendo dois botões principais: um para ataques básicos com a espada e outro para um “rush” que teletransporta Eve até o inimigo, além de também executar golpes. Mas essa base é expandida por uma robusta árvore de habilidades e pelas Habilidades Beta – golpes especiais com efeitos únicos, como perfuração de armadura ou dano massivo. Não posso entrar em mais detalhes para evitar spoilers, mas a variedade de técnicas que vamos conhecendo durante a campanha é absurda.
Como mencionei, o jogo é fortemente inspirado em Sekiro, portanto, espere muitos momentos de parry – e como eu amo parry! Embora seja possível esquivar, é na mecânica de aparar que o combate realmente se destaca. Menos punitivo que Sekiro, Stellar Blade recompensa quem domina as janelas de ataque dos inimigos. Cada adversário tem uma barra que diminui conforme executamos parries e, quando zerada, podemos proferir um golpe devastador.
A exploração também é digna de nota. O mundo se divide entre áreas lineares e mapas mais abertos, onde se concentram as missões secundárias. A cidade de Xion funciona como hub, com lojas, quadro de missões e NPCs com quem podemos interagir. O cenário pós-apocalíptico combina bem com a proposta do jogo, e explorar seus desertos se torna divertido graças à variedade de inimigos e tarefas disponíveis – e olha que eu odeio desertos!

A beleza de um mundo em ruínas
Visualmente, Stellar Blade é um espetáculo. Os gráficos são impressionantes, com ambientes detalhados e um design de personagens e inimigos que realmente se destacam – a estética do Orcal, por exemplo, é insana. Eve foi modelada nos mínimos detalhes: suas animações são fluidas e há diversas opções de customização, como roupas e estilos de cabelo, que tornam a experiência ainda mais pessoal. A direção de arte também se sobressai, criando um mundo pós-apocalíptico que é, ao mesmo tempo, desolado e belo. Também vale destacar os efeitos visuais nos combates, com explosões, luzes e golpes especiais que adicionam impacto às batalhas.
Quanto à otimização, minha experiência foi mista. Muitos consideram Stellar Blade um dos melhores ports recentes para PC, mas, sinceramente, não foi bem o meu caso. Embora o desempenho esteja ótimo em áreas fechadas e no combate, cenários abertos como Xion ou o deserto sofrem com ocasionais quedas de framerate e stutters. Ainda assim, o game é totalmente jogável e fluido na maior parte do tempo, com pequenos deslizes em momentos menos exigentes.

A trilha sonora é outro ponto alto. Variando entre faixas épicas e melancólicas, ela acompanha perfeitamente a jornada de Eve, adaptando-se aos diferentes momentos com precisão. A Shift Up já havia demonstrado seu talento musical em Goddess of Victory: Nikke, e aqui não é diferente. Descansar em um acampamento ao som de The Song of the Traveler foi um dos momentos mais marcantes – e relaxantes – da minha experiência.
Infelizmente, o mesmo não pode ser dito da dublagem. A versão em português tem qualidade duvidosa, com atuações sem emoção e vozes que não combinam com os personagens. Curiosamente, testei também a versão em inglês e o problema persiste. Felizmente, a dublagem coreana – cujo é o idioma original – e japonesa oferecem altíssima qualidade, entregando atuações que realmente se encaixam com o tom do jogo, como deve ser.

Surpreendente e promissor
Stellar Blade marca uma estreia impressionante da Shift Up no cenário dos AAA. O título se destaca nos principais pilares de um bom jogo: combate refinado e satisfatório, narrativa envolvendo e aspectos técnicos deslumbrantes, como gráfico e trilha sonora. Nem tudo é perfeito, e a falta de orçamento em certos momentos é evidente, mas o potencial está ali. O futuro da franquia é promissor, e mal posso esperar por uma sequência!
Esta análise é baseada na cópia de PC fornecida pela PlayStation.