Ruffy and the Riverside é uma aventura de plataforma 3D que se destaca por seu estilo artístico desenhado à mão e por uma mecânica central criativa e inovadora: a possibilidade de “copiar e colar” texturas do ambiente para resolver quebra-cabeças e modificar o mundo ao seu redor. Desenvolvido ao longo de quase uma década por uma equipe independente, o jogo chegou ao PlayStation 5 prometendo uma experiência vibrante, acessível e original. Mas será que todo esse esforço valeu a pena?
O escolhido
O enredo de Ruffy and the Riverside é leve, simples e bem-humorado. Ruffy embarca em uma jornada para recuperar as seis letras douradas do letreiro da cidade de Riverside, que desapareceram após uma grande transformação no mundo causada pelo ressurgimento de um grande mal que havia sido selado a anos. Ao longo da aventura, nos deparamos com personagens excêntricos, NPCs com missões secundárias e um mundo que se expande conforme progredimos. A história não busca profundidade emocional ou grandes reviravoltas, mas entrega uma experiência lúdica, acolhedora e cheia de carisma.
Apesar de não buscar profundidade, os diálogos são muito longos e, em certos momentos, acabam quebrando o ritmo do jogo – especialmente em trechos onde só queremos continuar a exploração. Ainda assim, o humor e a personalidade das falas ajudam a manter a leveza da jornada.

Paper Ruffy?
A primeira impressão de Ruffy and the Riverside é impactante: o jogo possui uma direção de arte muito carismática, que aposta em um estilo visual único, misturando gráficos 3D com personagens e objetos desenhados à mão. Esse estilo foi inegavelmente inspirado em Paper Mario e Yoshi’s Crafted World, mas com uma identidade própria, mais voltada para o cartoon psicodélico e colorido.
Ruffy, o protagonista, foi animado com mais de 600 quadros desenhados manualmente – e esse nível de detalhamento se reflete em sua fluidez durante toda a jogatina. Todo o universo do jogo exala uma estética encantadora, desde os cenários urbanos até os bosques e praias, passando por personagens excêntricos e criaturas estilizadas. No entanto, nem tudo é perfeito. Embora o estilo artístico seja forte e coeso, ele sofre com certa repetição: muitos elementos visuais e recursos são reciclados entre diferentes regiões, o que pode causar uma sensação de déjà vu quando jogado por várias horas.
O mundo de Ruffy and the Riverside é dividido em uma área central: a cidade de Riverside, que funciona como uma warp zone. Dela, podemos acessar sete regiões principais – cada uma com ambientações únicas, desafios específicos e uma boa variedade de missões secundárias, colecionáveis e segredos.
O level design é competente: as fases combinam exploração 3D, momentos de progressão linear, puzzles ambientais e trechos em 2D – o que ajuda a manter a jogabilidade variada. A integração entre fases abertas e corredores mais controlados funciona bem, nos dando um bom ritmo de jogo. Embora o mundo não seja imenso, a necessidade de voltar às regiões já visitadas para completar desafios ou coletar itens pode se tornar repetitiva, especialmente quando o backtracking exige refazer caminhos longos. Isso quebra um pouco o dinamismo e impacta o conforto da exploração contínua – o que poderia ser menos impactante caso tivéssemos à disposição um sistema de viagem rápida pelo mapa.

Ctrl + C, Ctrl + V
O principal diferencial de Ruffy and the Riverside é a mecânica de “swap” de superfícies. Ruffy é capaz de capturar texturas do ambiente – como gelo, lava, folhas, madeira ou água – e aplicar essas propriedades em outros objetos. Isso altera não apenas a aparência, mas também o comportamento dos elementos no mundo: aplicar a textura de gelo em uma plataforma pode torná-la escorregadia; colocar lava pode derreter obstáculos; folhas podem servir como escadas.
Essa mecânica é utilizada em praticamente todas as fases, tanto para resolver os quebra-cabeças quanto para acessar novas áreas. É uma idéia muito interessante, que nos dá uma sensação de poder sobre tudo que acontece dentro do jogo. Mas apesar de sua criatividade, o sistema de troca é mais limitado do que parece à primeira vista. Nem todos os elementos podem ser modificados, e muitas soluções são lineares, o que diminui a liberdade criativa. O jogo apresenta as “possibilidades certas” de forma clara, o que evita frustrações, mas também reduz o desafio e a experimentação que poderiam surgir com um sistema mais aberto.

Dá pra qualquer um
A jogabilidade é extremamente acessível, especialmente para quem está acostumado a jogos de plataforma 3D. Ruffy conta com uma gama básica de movimentos: salto duplo, ataque giratório, planagem com a ajuda da abelhinha companheira e, claro, o sistema de troca de texturas.
Os comandos são responsivos e fáceis de dominar, o que torna a experiência agradável mesmo para jogadores menos experientes. No entanto, sofri um pouco com a câmera do jogo e os ângulos que por vezes ela se posicionava. O combate, por sua vez, é simples e quase sempre secundário. Existem inimigos espalhados e até alguns chefes, mas os confrontos não exigem muita estratégia e servem mais para tirar a monotonia do que para criar tensão ou parecer desafiador, já que o foco do jogo está nos puzzles e na exploração.
A trilha sonora é outro destaque positivo. Com composições que misturam elementos funky, jazz, psicodélico e experimental, a música cria um pano de fundo divertido e muitas vezes inesperado para a jornada. Cada região possui sua própria identidade musical, e a trilha acompanha bem o ritmo de jogo, alternando entre faixas calmas e outras mais animadas conforme a situação. Os efeitos sonoros são funcionais e não comprometem, embora não se destaquem tanto quanto o visual e a música.
Conclusão
Ruffy and the Riverside é uma aventura charmosa e criativa que brilha por sua direção de arte desenhada à mão e pela mecânica original de troca de texturas. Embora tenha limitações técnicas e de design, oferece uma experiência leve, divertida e acessível – ideal para quem busca algo diferente e acolhedor. Um jogo que pode não reinventar o gênero, mas que conquista com personalidade e boas ideias.
Está análise é baseada na cópia de PS5 fornecida pela Phiphen Games.