Arte de capa produzida por Paulo Teles, confira seu trabalho no Instagram @yonami.official
Desenvolvido pela Rose-engine Games, Signalis é um jogo de survival horror no âmbito da ficção científica que se passa em ambientes claustrofóbicos de naves espaciais e postos avançados de pesquisa, transmutando entre a tecnologia futurista de H.R. Giger (Alien) e o bizarro terror da carne de Silent Hill. Sua jogabilidade será muito familiar aos old gamers de Resident Evil e Metal Gear Solid (!), devido à características como seu gráficos retrô, sistema de mira, uso do inventário e gerenciamento de recursos, presença de um rádio – que influência em puzzles e no próprio combate –, e, é claro, a movimentação, que causa uma sensação de peso ainda maior ao jogador, não apenas pelos ambientes com pouca ou nenhuma iluminação como também pela solidão de longas caminhadas em uma exploração típica dos jogos já supracitados.
Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas?
Signalis se destaca por sua protagonista feminina, Elster, uma agente da unidade REPLIKA que se caracteriza por ser uma andróide biossintética que nos acompanhará na maior parte do tempo nessa jornada. Elster desperta de um sono criogênico em uma nave acidentada, e após investigar as instalações, percebe que sua parceira está desaparecida e resolve partir em busca de seu paradeiro por meio de pistas e memórias adquiridas através de itens e conversas, criando assim a coluna vertebral do plot do jogo.
Entendendo o Pesadelo
A narrativa possui características oníricas em seu ritmo, frequentemente transitando entre ambientes que aparentemente não possuem nenhuma conexão (como um elevador), ou até mesmo um simples baú que desperta lembranças da protagonista, levando o jogador a ver o mundo (literalmente) através dos olhos de Elster e outras personagens. Apesar de se caracterizarem por longos diálogos – que diga-se de passagem têm sua relevância para o gameplay em si –, seus personagens carregam uma profunda ambiguidade não apenas em suas personalidades, como também em suas jornadas, influenciando em eventos importantes na história do jogo.

O combate possui mecânicas muito similares a Metal Gear Solid (PSX), como o sistema de mira automática das armas de fogo em sua maioria orientadas por uma laser sight que auxilia a precisão dos disparos e acertos críticos, e itens de suporte, como sinalizadores e tasers que previnem contra ataques corpo a corpo. A variedade de inimigos não é muito grande – e faz-se desnecessária dado o tempo de gameplay –, entretanto, dentro desse microcosmo de seus monstros, temos variações de inimigos utilizando equipamentos dentro do contexto do ambiente, como escudos e bastões, além de outras REPLIKAS em trajes pesados de batalha.

O sistema de finais possui algumas discrepâncias por não depender necessariamente de eventos específicos – como, por exemplo, matar um determinado inimigo –, mas sim de fatores matemáticos (!). Sim, certos números influenciam nos finais do jogo, como quantidade de inimigos eliminados, horas de gameplay, itens de cura utilizados, entre outros. Por outro lado, isso não influencia diretamente no fator diversão do jogo, o que acaba rendendo alguns replays.

Sussurros na Frequência
Em termos de influências, quando falamos de cinema, música, quadrinhos ou games, o que todas essas têm em comum é o fato de que são formas de expressão artística onde os autores reúnem diversas referências acumuladas ao longo dos anos, seja por obras que eles admiram ou gêneros que gostam. Signalis entrega ao jogador entretenimento puro, facilmente comparado à clássicos, em especial Silent Hill 2, abraçando não apenas seu terror psicológico, como também muito da direção de arte presente em seus monstros tão semelhantes às enfermeiras – além de detalhes tão simples, porém gritantes, como os terminais de savepoint.

A referência tecnológica presente em Signalis também dança com as artes de H.R. Giger, com seus ambientes claustrofóbicos da Nostromo e seus sintéticos. Porém, a forte influência da franquia Alien não para por aí, trazendo inclusive um universo distópico regido por uma grande nação (EUSAN) e eventos desencadeados por resgates realizados em planetas desconhecidos após um eventual acidente.

É ainda mais comum autores expressarem sua visão através da ficção científica de uma forma muito pessoal, e outras apenas através de pesquisas sobre as referências mais mundanas de eventos que acontecem na sociedade. É fascinante como obras isoladas têm resultados tão extraordinários na indústria de entretenimento, mas, quando reunidas, compõem uma orquestra que gradativamente converge para um único fim: despertar emoções em quem as consome.
Impressiona o fato de Signalis ter sido concebido por apenas duas pessoas – Barbara Wittmann e Yuri Stern –, que nos presentearam com uma obra tão pessoal. Os constantes acenos à literatura de Robert W. Chambers (O Rei de Amarelo) e ao terror psicológico que leva seus protagonistas à loucura dialogam diretamente com este terror “cyber” cósmico, especialmente pela forma como a narrativa é apresentada ao jogador: através de fragmentos de informação e sutis “interrupções” que confundem os menos atentos.

Outra característica que marca uma semelhança à obras do gênero é o estilo de desenho tão remetente à Tsutomu Nihei (BLAME!), que também carrega consigo elementos de horror cósmico presentes com criaturas indescritíveis do body horror, desafiando a sanidade e, em contraste com o game aqui mencionado, possui ambientes gigantescos e opressivos que acentuam a sensação de solidão e isolamento tão presentes em Signalis.
Conclusão
Signalis é um jogo que marca o jogador por meio de seus personagens intrigantes e ambíguos e sua trilha sonora tensa – que lembra bastante bandas como “God is an Astronaut” e algumas músicas do “Enigma”, além, é claro ressaltar a presença de Tchaikovsky em um de seus puzzles. O som ambiente torna a imersão ainda mais envolvente, com o som dos passos quebrando o silêncio constante e mantendo o jogador em uma situação de opressiva desconfiança. Ao se engajar em combate, a trilha sonora de terror é inserida, aumentando ainda mais a sensação de perigo com gritos estridentes de inimigos que entram em contato visual com Elster, convidando o jogador a adotar estratégias mais voltadas para o stealth. O jogo carrega uma trama pesada e emocionante, cheia de técnicas narrativas e simbolismos característicos do horror cósmico, envolvidos por uma gameplay agradável que afaga os retrogamers e conquista os jogadores mais jovens.