Assim que assisti ao primeiro trailer de Lost Soul Aside, publicado em 2016, fiquei imediatamente hypado com aquele combate frenético e estiloso. Na época, nós, fãs de hack ‘n slash, estávamos órfãos de bons títulos do gênero. O projeto chamou tanta atenção na internet que, anos depois, a Sony, por meio do China Hero Project, apoiou a criação da Ultizero Games, garantindo o investimento necessário para expandir o desenvolvimento que até então era tocado por um único desenvolvedor. Foram sete anos de espera desde aquele primeiro contato – mas será que Lost Soul Aside conseguiu superar minhas expectativas?
Lost Soul Aside é um hack ‘n slash de ação e aventura desenvolvido pela estreante Ultizero Games e publicado pela PlayStation. Vamos juntos combar e descobrir tudo o que o jogo tem a oferecer.
Um mundo em conflito
Há cerca de mil anos, a Terra sofreu uma invasão dos Voidrax – temidos seres alienígenas. Após uma grande guerra, os humanos, com a ajuda de alguns Voidrax que buscavam paz, conseguiram derrotar os invasores e prender fragmentos da alma de seu líder, Aramom. Essa alma foi armazenada em cristais, espalhados por cinco dimensões paralelas.
Junto a isso, o ambicioso general humano AltoCastro aproveitou-se do caos para se tornar governante, estabelecendo o império de Celestria. Em sua fortaleza, ele capturou Arena, o mais formidável dos Voidrax aliados, um dragão que passou a servir como fonte de energia para consolidar o poder do imperador.
No meio do ataque, dois irmãos órfãos ligados à resistência sofrem destinos distintos: Luisa tem sua alma aprisionada, enquanto Kaser – nosso protagonista – descobre sem querer a prisão do temido Lorde Arena. O dragão então propõe ajudá-lo em uma perigosa missão para resgatar a irmã e impedir que Aramom retorne, enfrentando inimigos tanto humanos quanto Voidrax ao longo do caminho.
Dá para perceber, já pelo pretexto da história, que ela não é tão elaborada, mas, para um hack ‘n slash, até cumpre “bem” o papel de pano de fundo. O maior problema da narrativa de Lost Soul Aside está na falta de desenvolvimento da maioria dos personagens, o que acaba tornando muitos deles irrelevantes para o jogador ao longo da aventura. Entre todos, o Lorde Arena é o único que recebe um bom desenvolvimento e se destaca como, de longe, o melhor personagem da trama.

Poder Arena
O foco de Lost Soul Aside está totalmente em seu combate e, nesse aspecto, o jogo conseguiu me surpreender em alguns pontos, mas também me frustrou em diversos outros. O primeiro problema vem da câmera, que parece saída diretamente da sétima geração de consoles: ela atrapalha bastante em combates contra mais de três inimigos. Além disso, a trava de mira insiste em focar em apenas um inimigo específico, o que acaba sendo frustrante a cada nova onda de adversários.
Lost Soul Aside conta com um arsenal relativamente variado de armas – são quatro ao todo, cada uma com ações únicas que transformam o combate e oferecem uma boa liberdade de combos entre elas. De início, recebemos a espada padrão, uma arma versátil que se adapta bem a quase todas as situações, tanto em curta quanto em média distância. Em seguida, obtemos a espada larga, uma lâmina imensa que causa enorme dano, mas, em contrapartida, é bastante lenta; ainda assim, é excelente para finalizar combos e drenar a barra de postura dos inimigos. Depois, temos a foice, uma arma extremamente ágil que, além de permitir deslocamentos em sessões de plataforma, também conta com a chamada “suspensão dupla” — que funciona de forma muito semelhante ao jump cancel da franquia Devil May Cry. Com isso, o jogador consegue resetar ataques aéreos e se manter no ar por bastante tempo, abrindo espaço para combos estilosos. Por fim, há a alabarda, provavelmente a melhor arma do jogo: rápida e poderosa, ela combina golpes de curta distância extremamente letais com ataques de longo alcance capazes de causar ótimo dano à postura dos inimigos. O ponto negativo é que o jogo demora demais para liberar a segunda arma, o que torna as duas primeiras horas de combate monótonas e repetitivas.
Além das armas, temos o Poder Arena: habilidades do Lorde Arena que servem tanto para causar dano quanto para prestar suporte durante as batalhas. Essas habilidades são uma boa adição ao combate, embora poucas opções ajudem o jogador de fato. Junto às habilidades, Kaser também possui a Energia Fusão – um “modo rage” que faz nosso protagonista drenar as imensas barras de vida que os inimigos possuem. Temos também a mecânica de esquiva e o bloqueio que, pra ser sincero, é uma mecânica que ajuda bastante, mas que é bem mal feita, já que o jogo não te recompensa tão bem ao utilizá-la. Sejam os inimigos padrões ou os chefões, todos possuem uma barra de postura que, quando chega a zero, o inimigo fica atordoado, sendo suscetível a bastante dano. É com essa mecânica de postura que Lost Soul Aside se perde, já que muitos subchefes e chefes possuem de duas a três barras de vida, tornando longas sessões de jogatina uma tortura e inflando o tempo de jogo de uma forma superficial e mal feita. O titulo também possuí efeitos de status negativo, como gelo, fogo e raio, mas na prática, eles não alteram o combate, já que nosso protagonista tem uma barra de vida gigantesca e recebe pouco dano, fazendo o jogador ignorar completamente os efeitos negativos.
O jogo também apresenta um sistema de crafting curioso, mas infelizmente mal executado. O funcionamento é confuso e pouco intuitivo, tornando a experiência frustrante para o jogador. Além disso, os itens produzidos quase não têm impacto no combate, deixando a sensação de que o esforço despendido para coletar materiais e fabricar equipamentos é praticamente inútil. A falta de integração do crafting com a jogabilidade principal faz com que o recurso pareça apenas cosmético, desperdiçando uma oportunidade de enriquecer a estratégia durante as batalhas.
Lost Soul Aside é praticamente um passeio no parque quando o assunto é desafio, oferecendo uma generosa colher de chá ao jogador. Em vários momentos, é possível levar três ou quatro golpes seguidos e ver a barra de vida ser pouco afetada. Essa falta de dificuldade se estende até mesmo aos chefes, o que representa um grande erro de design e torna as batalhas contra eles insossas e sem impacto.

A jornada de um pseudo “herói”
A movimentação de Kaser em combate é relativamente ok, mas a situação muda completamente nos momentos de plataformas, entregando uma mecânica de pulo imprecisa e desanimadora. É claro que o foco do jogo não é em plataformas, mas em alguns momentos eu me parei pensando o contrário, já que os desenvolvedores insistiram em colocar diversas áreas de plataformas ao longo da jornada, deixando muito evidente a deficiência da movimentação do game.
A falta de impacto nos golpes desferidos e recebidos é evidente e, a longo prazo, torna o combate tenebroso. Vale reforçar: o sistema de batalha de Lost Soul Aside não é ruim, mas a ausência de peso nos ataques – tanto no aspecto visual quanto sonoro – deixa a experiência cansativa. Sem esse impacto, o jogo não transmite o feedback necessário para identificar os momentos em que o inimigo pode contra-atacar, reduzindo o combate a um simples “spamar botões” e torcer para não ser atingido. Além disso, a disposição de botões do game é confusa e nada intuitiva, e pra piorar, não é possível customizar os comandos.
A trilha sonora do jogo apresenta momentos de destaque, mas seu potencial é desperdiçado com frequência, especialmente quando duas ou três músicas se sobrepõem durante a mesma batalha, criando uma sensação confusa e desconexa. Um dos pontos mais estranhos do título está na direção e nos cortes de cena, onde algumas cenas parecem paródias de internet, com sequências mal executadas e transições abruptas que passam uma impressão de amadorismo. Além disso, o design dos personagens carece de coerência, alguns exemplos claros são os pseudo “Cavaleiros do Zodíaco” e o visual da Liana – nosso ponto central para ações como crafting e salvamento – que se mostram totalmente fora de sintonia com o restante do jogo.

Uma alma perdida
Lost Soul Aside apresenta uma duração total exagerada para um hack ‘n’ slash, o que se revela extremamente prejudicial à experiência. Para mim, esse é o maior problema do jogo, já que a sua longa duração transforma a jogabilidade em algo repetitivo, tornando as últimas horas da aventura extremamente cansativas. Honestamente, quase abandonei o game no seu terço final, já que grande parte do que surgia servia apenas para prolongar a jornada de forma burocrática.
Além disso, o desempenho no PC deixa muito a desejar, especialmente nas primeiras horas. Problemas de renderização de cenários e personagens são frequentes, e durante minhas 24 horas de gameplay enfrentei quatro crashes que fecharam o jogo. Pra piorar, algumas cutscenes pré-renderizadas simplesmente não carregavam, deixando uma tela preta com apenas as legendas visíveis, comprometendo seriamente a experiência geral.
Não bastasse isso, Lost Soul Aside ainda sofre com uma dublagem em inglês desastrosa. Os personagens – que já são pouco carismáticos por natureza – não transmitem emoção alguma em suas falas, com exceção de Lorde Arena, um dos raros casos bem executados. Em outros idiomas, como japonês e chinês, o áudio soa mais agradável, embora eu pessoalmente não tenha o hábito de jogar em línguas asiáticas. O problema ganhou até mesmo repercussão nas redes sociais, graças a um grito de “baixa renda” proferido por Kaser no início do jogo, que rendeu o meme: “quando o dublador foi mal pago pelo trabalho”.

Um jogo incoerente e sem alma
Lost Soul Aside é um exemplo claro de potencial desperdiçado. O jogo tinha tudo para se destacar entre os grandes hack ‘n’ slash, mas acabou se tornando genérico e sem identidade.
O combate rápido proporciona momentos de diversão, e a trilha sonora chega a se destacar em algumas cenas, mas esses pontos positivos são rapidamente ofuscados por problemas graves de progressão, desempenho e narrativa. O título tenta constantemente se inspirar em grandes sucessos da indústria, mas o resultado final carece de personalidade própria, entregando uma experiência sem alma e sem personalidade.
Esta análise é baseada na cópia de PC fornecida pela PlayStation.