A série Far Cry é conhecida por sua abordagem de mundo aberto com temática de sobrevivência, vilões carismáticos e cenários exóticos. Após o sucesso de Far Cry 3 e o sólido Far Cry 4, a Ubisoft decidiu seguir um caminho inesperado com Far Cry Primal: trocar as armas de fogo e veículos por lanças, machados de pedra e domesticação de animais selvagens na Idade da Pedra. Mas será que essa viagem ao passado funcionou?
Um Far Cry que é… diferente (mas não tanto)
Far Cry Primal é, essencialmente, um Far Cry. Ele carrega a mesma estrutura básica: mundo aberto, tomada de territórios, crafting de equipamentos, caçadas e uma boa dose de combate. Só que agora tudo se passa em 10.000 a.C., com o jogador no papel de Takkar, um caçador da tribo Wenja que busca reunir seu povo e sobreviver em uma terra hostil. A Ubisoft apostou em realismo e imersão histórica ao ponto de criar um idioma fictício próprio para o jogo, supostamente desenvolvido por linguistas. E, de fato, os diálogos e sons fazem sentido dentro da proposta, adicionando uma camada interessante de autenticidade.
Visualmente, Primal impressiona. Os gráficos são belíssimos e o cenário pré-histórico é ricamente detalhado, com florestas vibrantes, cavernas misteriosas e uma fauna ameaçadora. É fácil se perder explorando esse mundo, encontrando mamutes, tigres-dente-de-sabre ou simplesmente tentando sobreviver a um ataque surpresa de um urso.
Domine o passado… literalmente
Sem armas de fogo, a criatividade entra em jogo. Takkar usa lanças, arcos, armadilhas e, o mais interessante, animais domesticados. Sim, você pode ter uma coruja espiã, um lobo assassino, um urso de combate ou até um tigre como companheiro de batalha. A mecânica de domar animais adiciona variedade e dá ao jogador liberdade para abordar os combates de diferentes formas.
Essa liberdade se estende também à exploração. O jogo não pressiona o jogador a seguir a história imediatamente, permitindo que se perca pelo mapa coletando recursos, expandindo sua vila e enfrentando ameaças selvagens.
Problemas de época
Mas apesar da boa execução técnica e das boas ideias, Far Cry Primal sofre com limitações intrínsecas à sua própria proposta. O período pré-histórico, por mais fascinante que seja, carece de variedade — de inimigos, de armas, de acontecimentos imprevisíveis. Você enfrenta essencialmente os mesmos tipos de humanos e animais ao longo de todo o jogo. Não há vilões marcantes como Vaas ou Pagan Min. A história é simplória, quase inexistente, e o ritmo pode se tornar monótono após algumas horas.
A ausência de um antagonista forte, aliada a uma narrativa sem grandes reviravoltas, faz com que Primal não deixe a mesma impressão duradoura que outros jogos da franquia. E, diferente de Far Cry 3: Blood Dragon, que abraçava o absurdo e o estilo oitentista com gosto, Primal é extremamente pé no chão — o que limita seu potencial criativo.
Vale a pena?
Para fãs da franquia, Far Cry Primal ainda oferece uma experiência sólida, com uma jogabilidade competente e uma ambientação instigante. É um jogo que entrega o que promete: um Far Cry na Idade da Pedra. Mas justamente por se comprometer tanto com a realidade da época, ele sacrifica parte da diversão e da variedade que tornaram os anteriores tão marcantes.
Talvez se tivesse sido lançado como uma expansão ou spin-off de menor preço, como foi o caso de Blood Dragon, a recepção tivesse sido mais calorosa. Ainda assim, é uma adição curiosa à franquia e uma boa pedida para quem busca algo diferente, mesmo que sem grandes surpresas.
Esta análise é baseada na cópia de PS4 fornecida pela Ubisoft.