BioShock Infinite – Análise

Luiz Felipe Guimarães
16 min de Leitura

“Sempre existirá uma cidade, um homem, e um farol”

É com essa frase que inauguramos a nossa seção de reviews na GameFM, com BioShock Infinite, que consegue fechar a trilogia BioShock de forma impressionante, que nós mesmos não conseguiríamos imaginar quando começamos a jogar.

O protagonista do jogo é Booker DeWitt, ex-membro da Pinkerton que recebe a missão de resgatar uma misteriosa garota para sanar a uma dívida de jogo. Posteriormente Booker descobre que a garota, Elizabeth, possui o poder de acessar outros mundos através de, literalmente, rasgos na estrutura da realidade.  Os primeiros minutos de jogo podem trazer uma sensação de dejà vu, por ser bastante semelhante ao primeiro BioShock, com o protagonista chegando ao farol, e ativando o veículo que o levará à cidade. Mas assim que alcançamos Columbia, tudo muda.

A ensolarada cidade de Columbia, acima das nuvens, mostra o quanto BioShock evoluiu graficamente desde 2007. A cidade e suas paisagens são lindas, e não percebemos quase nenhum serrilhado nos modelos, mesmo utilizando uma TV Full HD para um jogo que alcança 720p. A qualidade das texturas dos personagens principais, que podemos ver logo que as mãos de Booker surgem na tela, realmente brilham quando alcançamos a cidade flutuante. Os modelos dos personagens de fundo são bem construídos, apesar de certas animações parecerem um tanto mecânicas e exageradas. Os personagens principais, por outro lado, são bem mais detalhados, com destaque especial para Elizabeth. Não foi visto nenhum tipo de Clipping ou Texture Popping.

A atmosfera de Columbia é muito bem feita. A cidade, ambientada no final do século 19/começo do século 20, consegue passar com facilidade a estrutura urbana de uma cidade sulista dos Estados Unidos, escravagista, com forte dominância masculina e cunho religioso. A cidade, liderada pelo “profeta” Zachary Comstock, principal antagonista do jogo, ilustra bem tanto o modo de vida perfeito dos brancos ricos, quanto o sofrimento dos negros pobres, nos próximos capítulos do jogo.

Falando em capítulos, BioShock Infinite é bastante extenso, principalmente para um FPS da geração atual. O jogo pode ser concluído entre 12 e 15 horas, sendo que exploramos um bocado do jogo, procurando power-ups, infusões e os famosos voxphones (audiologs) e complementam muito bem a atmosfera de BioShock Infinite. Um problema sobre os voxphones é que são as únicas coisas do jogo que não possuem legenda, por motivo desconhecidos. Apesar de você poder acessar as transcrições no menu acessório (Select), é desagradável ter que parar 80 vezes para poder ler algo que você poderia estar lendo enquanto joga. Não foi um problema para nós, apesar da qualidade de som propositalmente ruim, para imitar uma gravação antiga, e os sotaques, mas pode ser desagradável para quem não domina tão bem o inglês. O jogo pode ser jogado em Português, mas apenas o texto, e isso não atrapalha nem um pouco, pois o jogo é muito bem traduzido (salvo alguns nomes que perdem um pouco do impacto).

O jogo flui de uma maneira constante, e raramente você perde o foco, ou pensa que o capítulo está se arrastando demais, exceto por uma ou outra parte, que fazem o jogador circular e voltar para o mesmo lugar várias vezes, o que pode ser bastante frustrante.

O jogo é bem mais fácil que BioShock 1, sem dúvida. Salvo algumas pequenas partes, e a cena final do jogo, não haverá grandes problemas, até nas maiores dificuldades. O modo 1999 já é outra história. Prepare-se para morrer no modo 1999, apenas isso.

Ao contrário da claustrofóbica Rapture, Columbia possui muitos espaços abertos, e muitos locais para explorar. Os espaços abertos proporcionam boas cenas de batalha, mas também causam um bocado de frustrações nos combates, principalmente quando você precisa matar todos os inimigos para passar para a próxima área, e um deles está escondido em um cantinho.

O combate sofreu bastantes modificações, comparado com os jogos anteriores, principalmente com a adição de um escudo regenerativo, semelhante ao da série Halo, que pode ser melhorado encontrando infusões ao longo do jogo, e a limitação do número de armas que você pode carregar, apenas duas. A variedade de armas é bastante grande, apesar de serem todas relativamente genéricas, com o pacote pistola / revolver / escopeta / metralhadora / sniper / bazuca. Algumas armas possuem variantes, mas nenhuma delas vale o esforço para utilizá-las. Munições são específicas para cada arma, mas são numerosas ao longo do jogo, e você sempre pode contar com Elizabeth para encontrar mais para você.

Os famosos Plasmids continuam presentes, agora sob o nome de Vigors, e são oito poderes diferentes no total. Os poderes são úteis, mas acabam por ser ainda mais desbalanceados do que as armas, de modo que alguns poderes praticamente não precisam ser utilizados, enquanto que outros são unanimidade, principalmente depois dos upgrades. Por algum motivo, boa parte dos poderes possuem modos secundários quase idênticos.

Uma outra variante são os inimigos. BioShock 1 possuía muitos inimigos que utilizavam combate corpo-a-corpo, e Infinite faz justamente o contrário, trazendo quase todos os inimigos com armas de fogo, atacando à distância. Existem alguns inimigos especiais, como os Patriots, Zealots, Handymen e Sirens, mas alguns deles aparecem muito pouco, e você acaba enfrentando humanos normais mesmo, que utilizam armas diferentes.

Uma outra característica interessante é o uso dos poderes de Elizabeth para trazer coisas de outras realidades, como kits médicos, ganchos para utilizar o Sky Hook, munições, espaço para cobertura, e até aliados mecanizados.

Um dos grandes méritos de BioShock 1 era a possibilidade de utilizar o cenário contra os seus inimigos, e eletrocutá-los nas inúmeras seções com água do jogo, por exemplo. BioShock Infinite também possui elementos de cenário para auxiliar o jogador, mas eles são mal distribuídos, de uma maneira geral, e não podem ser tão bem aproveitados, por causa dos espaços muito abertos de Columbia.

O Skyline é uma adição interessante para o jogo, tanto para transporte quanto para o combate, assim como o Sky Hook. Os ataques corpo-a-corpo são simples, e as execuções extremamente violentas, é uma pena que os ataques corpo-a-corpo fiquem bastante defasados no final do jogo, mesmo com os gears certos.

Os gears são acessórios que permitem a Booker acessar outras habilidades especiais, como infligir mais dano com armas quando está mirando, ou dificultar a sua detecção por inimigos. Alguns são quase indispensáveis, e outros são só colecionáveis, de tão desnecessários.

Os dois pontos mais fortes de BioShock Infinite são a sua história, e Elizabeth. Elizabeth poderia tranquilamente entrar para história como um dos parceiros NPCs mais bem feitos em um jogo. A forma como ela interage com o protagonista, e também com o cenário, é algo nunca antes visto, e mostra como a Irrational se dedicou para fazer com que o comportamento dela fosse o mais próximo possível de um humano. Se você parar por muito tempo, ela vai sentar em algum lugar, ou encostar na parede para te esperar. Enquanto você vasculha e explora o cenário, ela também está procurando por recursos, especialmente dinheiro, e é um bom dinheiro que ela consegue encontrar ao longo do jogo.

Em momento algum os pedidos dela por atenção irritam o jogador. Inclusive, após pedir uma vez, você pode simplesmente ignorá-la, que o comando de aceitar logo desaparece da tela. Em combate, ela estará sempre a uma distância segura de Booker, providenciando suporte, e jogando para o jogador o que ele mais precisa no momento, sejam kits médicos para recuperar vida, munição para as armas que você está usando, ou sais para poder recuperar as suas Vigors.

A história é bastante sólida, de modo geral, e consegue se manter até quando as múltiplas realidades começam a invadir o plot, e tudo fica extremamente complicado. Naturalmente que a história sem os Voxphones fica um pouco escassa, e alguns personagens não são tão bem explicados, mas isso é de propósito, para incentivar o jogador a explorar e buscar a verdadeira história por trás de tudo. Songbird é outro ponto importante do jogo. Não vamos comentar aqui sobre o que foi prometido e não foi cumprido, como várias interações diferentes com Songbird, e como isso afetaria o seu relacionamento com Elizabeth, mas o que seria a grande ameaça à Booker, uma sombra inexorável que estaria sempre em seu encalço, não passa de algumas poucas cenas scriptadas aqui e ali. As cenas em si são boas e bem estruturadas, e passam bem o que seria o personagem, e o que ele representa.

A trilha sonora é muito boa, apesar dos anacronismos, como “Everybody Wants to Rule the World” e “Girls Just Wanna Have Fun”, mas até mesmo isso pode ser incluído nas explicações do jogo, então não é um problema. a música não atrapalha em momento algum, e se mescla bem com o ambiente.

BioShock Infinite também tem suporte para o PlayStation Move, e funciona incrivelmente bem, e é muito mais fácil de mandar headshots utilizando o controle de movimento. O único problema é que a mira do PS Move fica o tempo todo na tela, até quando não é possível utilizar armas.

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Rodrigo: BioShock Infinite provou a que veio. Só depois de algum tempo, fica claro o motivo pelo qual o “Infinite” no nome e não simplesmente um 3. Num primeiro momento, chegamos a pensar que o nome é apenas para pegar carona no sucesso do primeiro (esqueça o 2), mas com o passar do tempo, vemos que a ligação entre os dois jogos é justificada e quase indivisível.

BioShock Infinite desafia as tendências sendo um FPS sem multiplayer e, sinceramente, não faz nenhuma falta. O jogo é tão completo e tão complexo, que um multiplayer seria um extra que mais atrapalharia do que ajudaria e acabaria por tirar o foco do jogo no mais importante : a sua história e Elizabeth.

Elizabeth é, de longe, o melhor e mais completo NPC de todos os tempos e, sinceramente, espero que o padrão de qualidade e refinamento que foi aplicado a ela se torne um padrão nos jogos daqui para frente.

A história é um espetáculo a parte, um trabalho de roteiro magnifico que é, com certeza, resultado de profunda pesquisa e discussões por parte dos responsáveis. O final só encerra de forma magistral tudo o que foi desenvolvido durante o jogo.

Um conjunto quase perfeito, comprometido apenas pela pouca exploração de alguns inimigos e a gigantesca diferença entre algumas armas, o que torna algumas praticamente inúteis. Nada disso porém tira o mérito deste que é um forte candidato a jogo do ano. – 9/10

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Luiz: Os pontos mais fortes são a história, que se desenvolve muito bem, e Elizabeth, que é um NPC incrível. Problemas técnicos no combate, como o balanceamento ruim das armas e das Vigors, além de inimigos que se perdem em ambientes enormes, te impedindo de passar para próximas áreas, e a má utilização de certos inimigos, me impedem de dar a nota máxima para o jogo. Vale muito a pena. – 8/10

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Alan: BioShock Infinite foi uma surpresa para mim. Eu realmente não sabia o que esperar do terceiro jogo da série e ele me surpreendeu. Um FPS com uma história rica que te faz pensar por dias após você ter terminado o jogo. A Elizabeth facilmente está no top 10 de melhores parceiros da história do videogame. Ela é interessante e participativa, além de ser um dos pontos chaves da história do game. Ela também tem um nível de expressividade e sincronia labial fora dos padrões. O nível de polimento é altíssimo, coisa rara nesses tempos em que os jogos são lançados bugados e incompletos. A Irrational mostrou que a Unreal Engine 3 ainda tem muita lenha para queimar.

As poucas falhas presentes no jogo são facilmente ignoradas e não estragam o conjunto da obra. A experiência com o Move é única. Apesar do cansativo, o jogo fica incrivelmente mais imersivo e divertido. A precisão é muito alta. É com certeza uma das melhores experiências com o acessório no PS3. BioShock Infinite é um game obrigatório para quem gosta de uma boa história, é uma experiência única do início ao fim. E ainda tem gente que diz que videogame não é arte… – 10/10

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Para encerrar, BioShock Infinite consegue redimir a série, após o mediano BioShock 2, e expande o universo para infinitas possibilidades, literalmente. É um FPS divertido, com uma história envolvente, e que vai te deixar grudado no controle, e pensando por dias e dias após o final, que é magnífico.

BioShock Infinite: BioShock Infinite consegue redimir a série, após o mediano BioShock 2, e expande o universo para infinitas possibilidades, literalmente. É um FPS divertido, com uma história envolvente, e que vai te deixar grudado no controle, e pensando por dias e dias após o final, que é magnífico Zuel

9
von 10
2013-04-17T22:28:48-0300
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Artista, modelador e apreciador de todos os estilos de jogos. Tem um diploma de graduação em biologia guardado em algum lugar. Só não sabe onde.
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