Desenvolver uma sequência não é uma tarefa simples. Qual direção tomar, por onde o enredo deve caminhar e acima de tudo, o que será diferente do jogo anterior, são escolhas muito difíceis a se fazer. Às vezes, manter os pés no chão é mais assertivo do que implementar diversas mecânicas que não se sustentam durante a gameplay, porém a sensação de “e se” pode ser mais forte e levar os desenvolvedores a ousarem durante a concepção de seu jogo. E foi nessa “sinuca de bico” que Spirit of the North 2 se encontrou. Almejar a grandeza ou contentar-se com a sensação de contemplação e calmaria que o primeiro jogo passava?
A jornada se inicia
Logo que iniciamos a aventura, devemos personalizar nossa raposa. Podendo alterar pelagem, cor dos olhos, tamanho e altura dos pelos. Após isso, somos transportados para um universo onde o físico e o astral se complementam. Acompanhados de um corvo, devemos impedir a destruição do mundo, resgatando os guardiões ancestrais das garras do temido xamã Grimnir.
Por controlarmos uma raposa, não encontraremos diálogos durante a gameplay. Todo nosso conhecimento sobre o que está acontecendo naquele universo é demonstrado através das nossas ações e por documentos que encontramos no mapa e nos contam um pouco mais sobre as crenças e situações vividas pelas tribos locais. Apesar disso, as motivações dos personagens parecem um tanto genéricas, já que não existe tanta profundidade no que é abordado no enredo.
Sentir-se perdido é o novo normal
Os desenvolvedores optaram por adotar um mapa livre para exploração. Inicialmente achei interessante, mas conforme avançava e precisava percorrer maiores distâncias para alcançar meus objetivos, ficava com vontade de desistir e encerrar meu envolvimento com a obra. Ir de uma ponta a outra do mapa apenas para levar um cajado, máscara, ou outro item de interesse, tornou-se uma tarefa extremamente morosa. Não há um botão específico para abrir o mapa, é necessário apertar OPTIONS e mudar até a aba do mapa, os marcadores nem sempre são mostrados corretamente, e por diversas vezes vaguei sem rumo, tentando entender o que fazer e para onde ir.
Além disso, os cenários não chamam tanta atenção e estão repletos de bugs visuais. O draw distance é muito pequeno e é comum se deparar com uma árvore aparecendo, estruturas incompletas ou até mesmo grama alta que não era corretamente mostrado na tela. Claro que, por se tratar de um estúdio pequeno, podemos relevar muitas coisas, mas existem problemas que não devem ser ignorados.
Viciados em errar
Assim como seu antecessor, Spirit of the North 2 repete quebra-cabeças. Arrastar uma pedra, colocar um peso em algum piso, levar a cabeça de pedra de um ídolo para um lugar específico, são apenas alguns exemplos da repetição e falta de criatividade que encontramos. Mas nem tudo é ruim. Mesmo não sendo brilhantes, as lutas contra os chefes se dão por meio de puzzles. E apesar de extremamente fáceis, as batalhas são interessantes.
É nítido que algo faltou na hora de polir o game, por vezes me deparei com texturas horríveis, paredes e buracos invisíveis, objetos e personagens atravessando paredes e até mesmo outros seres. Por conta desse “vacilo”, tive que reiniciar o jogo algumas vezes, pois tornou-se rotina cair em limbos, ficar preso em paredes e até mesmo sair flutuando pelos cenários. Mesmo após a atualização que o game surpreendentemente recebeu antes do lançamento, a maioria destes problemas não foram resolvido.
Outro ponto que me frustrou muito foram os saltos. Sim, em um jogo em que 50% dele é baseado em alcançar lugares mais altos e explorar o seu vasto mapa, saltar tornou-se um fardo. Por algum motivo, a equipe de desenvolvimento achou que seria uma boa ideia impedir que o jogador controle a altura e velocidade dos saltos, ou seja, dependemos da boa vontade da “mira invisível” do game escolher o ponto em que desejamos saltar e então apontamos o botão correspondente da ação. Devo confessar que após 4 horas de jogatina, ainda continuava apanhando para esta obra-prima da jogabilidade. A situação só não é pior porque quando seguramos o botão de correr, os saltos são mais precisos e não existe a necessidade de mirar antes.
Nem mesmo a trilogia clássica de Tomb Raider conseguiu apresentar controles tão detestáveis. Perdi a conta de quantas vezes perdi meus estimados cristais – que servem como moeda de troca para a compra de itens e facilitadores – por conta desse estranho controle de salto. Apesar destas falhas, devo ressaltar que recebi com grande prazer a árvore de habilidades e as runas que encontramos espalhadas pelo mapa, as quais desbloqueiam novas ações, a fim de facilitar nossa jornada.
A trilha sonora manteve o mesmo padrão que encontramos no primeiro jogo. Por alguns momentos deixei-me ser levado para aquele mundo, me senti aliviado, tenso, preocupado e angustiado graças a maneira que a equipe responsável conduziu as inserções de faixas durante a jornada. Devo elogiar também os elementos sonoros. Passos, som do vento, e elementos que fazem com que, por um momento, deixemos de lado as inúmeras falhas encontradas aqui.
Um gosto amargo
Spirit of the North 2 tentou inovar, tentou expandir, tentou elevar o sarrafo, mas o que ele não tentou foi ser um jogo melhor e mais atrativo. Apesar de contar com boas ideias de puzzles e implementar batalhas interessantes, estes pilares sozinhos não sustentam um produto que falha em praticamente tudo o que o compõe. Seu mapa gigantesco e vazio e a qualidade duvidosa de seus elementos deixam escancarado que o game precisava de mais polimento, e infelizmente os desenvolvedores não enxergaram a tempo
Esta análise é baseada na cópia de PS5 fornecida pela Silver Lining Interactive.