The Precinct – Análise

Pierry Lima (@Pierry8Bit)
Pierry Lima (@Pierry8Bit)

No início dos anos 2000, uma onda de jogos em mundo aberto tomou conta da indústria. Todo mundo queria um “GTA” para chamar de seu. Porém, poucos conseguiram rivalizar com a franquia da Rockstar Games, que de longe observava as inúmeras tentativas de seus rivais em sua maioria se frustrarem por não alcançarem a mesma qualidade em seus jogos. Um dos pouquíssimos casos de sucesso foi True Crime, que com dois bons jogos – Streets of LA e Streets of NY – conseguiu, mesmo que por um breve período, incomodar. Em True Crime, controlamos policiais, e nosso objetivo era erradicar o crime organizado, gangues e a corrupção em suas respectivas cidades. E foi com essa mesma premissa que o estúdio Fallen Tree Games concebeu The Precinct, que nos conta o início de carreira de um policial promissor e sua busca por respostas sobre seu passado.

Apresentações feitas, hora de cumprir o dever

Seja bem-vindo novato!

Controlamos Nick Cordell Jr., um policial que acabou de ser integrado ao plantel da polícia da cidade de Averno. Seu pai, o antigo chefe da polícia, foi assassinado repentinamente em um caso que nunca foi solucionado, e a fim de buscar respostas, Nick resolve seguir os passos do pai e trazer paz para sua cidade. Fortemente inspirada na Nova York dos anos 80, Averno é uma cidade grande que ostenta sua força policial, e por meio dela que seus habitantes buscam alcançar a paz que tanto almejam. Após sermos devidamente apresentados à equipe, conhecemos nosso parceiro Kelly, um policial veterano que está prestes a se aposentar. Mesmo contrariado, ele aceita a tarefa, deixando bem claro que odeia ter que treinar novatos e só queria descansar suas costas cansadas. Dessa forma, iniciamos nossa jornada. 

A estrutura básica de The Precinct é a mesma do começo ao fim. Selecionamos qual tipo de turno de trabalho queremos cumprir; a pé, em veículos ou focados em operações como combate às drogas e arruaceiros noturnos. Cada crime exige uma abordagem diferente, mas não se preocupe, temos à disposição um manual que contempla todas as ações permitidas durante uma ocorrência. Devemos solucionar casos simples como descarte de lixo em local indevido, carros em excesso de velocidade e até mesmo ocorrências mais complexas como assassinatos e assaltos à mão armada. Apesar de parecer complicado, após algumas horas é natural tirarmos de letra as ações necessárias, já que existe uma repetição exagerada durante os turnos, o que acaba deixando a jogatina monótona por diversas vezes. Porém, devo confessar que é muito divertido realizar as abordagens, revistas e demais ações nas ocorrências. 

Nosso principal objetivo é erradicar o controle das gangues na cidade. Para isso devemos coletar provas, falar com nosso informante e capturar cada um dos principais membros. Após realizado o cerco, o suspeito passará por um breve interrogatório e poderá deleitar-se de longos anos atrás das grades – ou não, vai que alguma coisa trágica acontece. 

Liberdade, pero no mucho

Embora inspirada em Nova York, a cidade de Averno passa mais a vibe de Brooklyn, já que conta com duas zonas principais divididas em alguns pequenos bairros. Este fator deixa a experiência ainda mais rasa, já que existe pouca variação estrutural da cidade. Além disso, ambientes internos para exploração são nulos, com apenas alguns locais previamente selecionados pelo enredo sendo acessíveis, algo que me deixou decepcionado.

A cidade não externaliza vida, os cidadãos não têm interações reais com o cenário, suas rotinas são inexistentes e mal reagem às situações que presenciam. Por vezes, trocava tiros com bandidos e um casal estava tranquilo e calmo conversando no meio da confusão, ou até mesmo no meio de uma perseguição a um veículo algum pedestre se jogava na frente dos carros esperando ser atropelado – será que ninguém avisou que nos EUA não existe SUS?

Podemos cumprir algumas atividades secundárias durante a jogatina. Rachas, time trials e até mesmo veículos secretos podem ser encontrados no mapa. Infelizmente, com exceção da investigação de um assassino em série, nenhuma das atividades realmente chama a atenção, pois são rasas e foram pouco exploradas pela equipe de desenvolvimento. 

Por vezes, o controle dos veículos atrapalha o desempenho na pista. A viatura padrão acaba sendo a melhor escolha, pois sua jogabilidade parece ser a mais equilibrada. Já os veículos maiores não tiveram o refino necessário para entregar uma experiência positiva, e o pensamento de “ele poderia ser mais rápido” é constante. Pilotar um helicóptero é uma tarefa infeliz, já que os comandos não fazem sentido. Para virá-lo usamos o analógico direito, subimos com X e aceleramos com o analógico esquerdo. E sabe qual é a “melhor” parte? NÃO PODEMOS PERSONALIZAR OS CONTROLES!!!

O combate é exatamente como eu esperava, mirar e atirar. Mas tome cuidado para não alvejar um inocente, ou você verá a tela de GAME OVER entrando em cena. Caso esteja abordando um suspeito desarmado, faça uso da arma de choque, cacetete ou simplesmente imobilize-o para algemá-lo. Novas armas são desbloqueadas conforme subimos na carreira, mas tive a sensação de que as melhores são desbloqueadas logo nos primeiros níveis. Assim, o jogador mais apressadinho não levará tanto tempo para chegar ao encerramento da campanha. 

Claro, uma árvore de habilidades

Como é de praxe na indústria, precisamos acumular XP para desbloquear novas habilidades para Nick. Melhorias de vida, combate, dirigibilidade e desbloqueio de tipos de apoio policial são alcançados conforme finalizamos turnos e crimes com sucesso. É fácil e muito rápido alcançar os níveis superiores, o que acaba deixando o jogo ainda mais fácil, já que contamos com uma burrice artificial que não afeta somente as “vítimas da sociedade”, mas até mesmo os outros policiais – o que acaba gerando cenas no mínimo engraçadas de perseguição e combate –, que parecem nunca tomar a decisão correta em meio a um tiroteio. 

As recompensas por subir de nível na carreira de policial se limitam a novas viaturas, turnos e armas. Não existem safehouses, lojas de roupas ou trocas de uniformes. Essa decisão da equipe não me agradou, já que, por vezes, me senti em um jogo linear, onde minhas decisões pouco importam, no qual a narrativa sempre é imposta, quer eu queira ou não atender as missões principais. 

Desempenho aceitável para um jogo aceitável

Quando iniciei minha jogatina, fiquei apreensivo quanto aos bugs que encontraria, mas fiquei surpreso ao perceber que o desempenho do jogo era sólido. Poucas vezes notei quedas de FPS bruscas, ou objetos atravessando paredes e NPCs. Mas como nem tudo são flores, o enredo previsível, repetição da gameplay e as fraquíssimas atividades secundárias puxaram a nota do game pra baixo. Ainda assim, vejo com bons olhos o projeto. Se The Precinct tivesse um foco maior nas mecânicas de investigação, coleta de provas e na variedade de ocorrências, seria um produto mais sólido no fim das contas. Ao invés disso, a Fallen Tree Games preferiu dar um foco muito grande no ganho de XP e cumprimento de turnos, algo que acaba tirando um pouco o brilho do que o jogo teria de melhor a oferecer. A vibe anos 80 e a trilha sonora dão um gostinho do que The Precinct poderia ser: um bom game investigativo e não apenas um tipo de “GTA policial”.

Esta análise é baseada na cópia de PS5 fornecida pela Kwalee.

The Precinct
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