Phantom Dust – Análise

Gabriel, vulgo Buda (@budabyte)
13 min de Leitura

Em 2004, Phantom Dust chegava ao mercado como um título exclusivo do Xbox original, sendo mais uma das tentativas da Microsoft de conquistar o mercado japonês. Se foi bem-sucedido? Bem, pode-se dizer que não muito, mas certamente foi entregue aos jogadores um dos jogos mais singulares na história dos videogames, com um conceito que ainda hoje é difícil de encontrar similar. Confira a análise desta pérola escondida do primeiro Xbox!

De onde esse jogo surgiu?

Antes de falarmos sobre a história e gameplay, é importante entender um pouco sobre o surgimento de Phantom Dust. A ideia inicial da Microsoft era criar um título que cativasse o público japonês. Para alcançar tal feito, Yukio Futatsugi, conhecido por seu trabalho na franquia Panzer Dragoon, foi recrutado para dirigir o desenvolvimento, junto da Microsoft Game Studios Japan. O jogo foi lançado, porém, registrou números decepcionantes em vendas, com apenas 6 mil cópias vendidas no Japão, e 50 mil na América do Norte. Vale lembrar que Phantom Dust foi inicialmente planejado como um exclusivo para o Japão, mas acabou chegando ao ocidente seis meses após o lançamento, através da Majesco Entertainment.

Apesar do fracasso comercial, Phantom Dust tinha seu lugar reservado no coração de algumas pessoas. Yukio Futatsugi, até hoje, o considera seu projeto favorito. Além disso, figuras da indústria como Phil Spencer, o renomado chefão da divisão Xbox, e Ken Lobb, diretor criativo do Xbox Game Studios, foram defensores do projeto, o que levou ao surgimento de um tipo de remasterização no ano de 2017, que foi a versão jogada para esta análise. Portanto, se você tem interesse em experimentar Phantom Dust, saiba que é possível! O jogo está disponível gratuitamente no Windows, Xbox One, e Xbox Series X|S (sem melhorias nesta versão). No entanto, vale destacar que Phantom Dust quase teve um destino mais promissor, assunto este que será discutido mais adiante nesta análise.

Ok, mas o que é Phantom Dust?

Se fosse para classificar, eu chamaria Phantom Dust de “action arena strategy card game”. Nome longo, não? Mas é o nome que define um jogo único e muito a frente do seu tempo. O combate de Phantom Dust requer estratégia, exigindo uma boa compreensão do ambiente, das habilidades do inimigo, e do timing para o uso das nossas próprias habilidades. No total, são exatas 300 skills disponíveis, cada uma possuindo seu próprio tipo e escola. Ao entrar na arena de batalha, o jogador é recebido por quatro cápsulas, que contém diferentes habilidades. Também há três cápsulas adicionais espalhadas próximo de onde nascemos. Essa mecânica é interessante e adiciona um nível extra de estratégia, forçando o jogador a escolher com sabedoria quais habilidades carregar, considerando o momento atual da batalha.

As habilidades são divididas em ataque, defesa, habilidade de apagar, status, especiais e ambientais, com cada uma contendo sua própria função e efeitos distintos. A variedade de escolas, que são psycho, optical, nature, ki e faith, oferece ao jogador uma ampla gama de estilos para explorar, que vão desde poderosos ataques corpo a corpo a ataques de longo alcance. Também vale mencionar a interação com o ambiente, visto que existe a possibilidade de destruirmos a arena para causar dano ao adversário. Apesar disso, a destruição é um tanto quanto travada, devido a câmera do jogo ser fixa, dependendo um pouco da sorte na mira.

 

Outro ponto de destaque para a questão da estratégia é a gestão da aura, que funciona como um tipo de mana, sendo a responsável por permitir que o jogador utilize suas habilidades. Vale também mencionar que existem diferentes tipos de arsenais no game, que alteram a velocidade de recarga da sua aura. Portanto, é crucial escolher o tipo de arsenal ideal de acordo com seu estilo de jogo. Deseja um arsenal mais limitado, mas com recarga rápida, ou um arsenal mais robusto, mas com recarga lenta? Fica a sua decisão.

Phantom Dust oferece uma boa variedade de missões, que vão desde batalhas contra vários inimigos a situações específicas que exigem diferentes condições de vitória. Conforme progredimos pelas missões, a dificuldade aumenta consideravelmente, com cada vez mais inimigos poderosos surgindo. Para tentar ajudar (foco na palavra tentar), existem companheiros que podem ser escolhidos antes de iniciar o combate, mas que na maioria das vezes são completos inúteis. Dou um destaque ao personagem JD, que dentre os vários disponíveis é um dos poucos que realmente ajuda, devido ao seu alto poder de ataque. Mas ainda assim, é um único personagem bom dentre vários disponíveis, o que é no mínimo decepcionante.

 

História pós-apocalíptica

Ao iniciarmos a campanha, nos deparamos com uma expedição à superfície de um planeta devastado, onde são encontrados dois homens inconscientes dentro de cápsulas em meio a uma cratera. Estes homens são Edgar e nosso protagonista, de nome a escolher pelo jogador. Ambos passaram muito tempo expostos ao pó presente na superfície, o que fez com que perdessem suas memórias. Um fato curioso é que isso também explica as batalhas terem duração máxima de 15 minutos, visto que é o tempo limite que alguém pode ficar em contato com o pó.

Levados por um grupo de pessoas, Edgar e nosso protagonista despertam em uma clínica subterrânea, o lar dos Visions, o grupo responsável por encontrá-los. Lá, descobrem que são Espers, seres com a habilidade de manipular o Dust, vulgo pó da superfície, como se fosse um poder. A partir desse ponto, uma jornada em busca de respostas se inicia. Quem são eles? Por que a Terra está em ruínas? O que é o Dust? Essas são algumas das questões que serão abordadas ao longo da história.

Gostaria de poder falar muito mais sobre a trama de Phantom Dust, mas tudo a partir daqui é um grande spoiler. O que posso dizer é que a história gira ao redor de Edgar, Freia (uma mulher que surge logo após o início da campanha) e nosso protagonista. Diversos temas serão abordados durante a campanha, como solidão, amor, e o fim da humanidade. Embora estes aspectos sejam relativamente rasos, o jogo faz questão de encaixar tudo muito bem, tornando a narrativa bem interessante de acompanhar, inclusive com questões filosóficas que vão surgindo gradualmente, à medida que nos aproximamos do fim do game.

 

Estética incrível

Apesar de não ser um tópico com muito a desenvolver, preciso destacar a estética de Phantom Dust. O jogo se passa num cenário pós-apocalíptico, e retrata muito bem a vibe de um mundo abandonado. Tudo está em ruínas, com visíveis sinais do tempo, e a sensação de vazio é constante. Apesar disso, há claros sinais de tecnologia, como o subsolo onde os Visions se encontram, que remete até um pouco a algo cyberpunk. Também vale destacar os personagens presentes no game, que possuem um ótimo gosto para vestimentas, sendo que alguns parecem ter saído diretamente de JoJo’s Bizarre Adventure, como é o caso do nosso protagonista,

A trilha sonora não fica atrás do visual. Quando entrei no quartel-general dos Visions, fiquei de boca aberta quando começou a tocar uma versão de Moonlight Sonata, do Beethoven. E não é só nesse caso, visto que existem outras músicas inspiradas em Vivaldi, Boccherini, Bach e Chopin. Eu honestamente não esperava encontrar uma grande variedade de músicas clássicas presentes num jogo como esse, e sinceramente? Encaixou perfeitamente. A serenidade das composições contrasta de uma forma incrível com o cenário solitário e devastado de Phantom Dust.

 

O que o futuro nos reserva?

Como mencionado anteriormente, Phantom Dust quase viu uma luz no fim do túnel, que infelizmente se apagou. Em 2013, Yukio Futatsugi manifestou interesse numa possível continuação de Phantom Dust que seria financiada através do Kickstarter, mas isso nunca ocorreu. Um ano depois, era anunciado na E3 de 2014 o reboot de Phantom Dust, sendo produzido pelo desconhecido Darkside Game Studios, um tipo de estúdio de suporte que nunca havia produzido nenhum título por conta própria. A ideia da Microsoft era gastar pouco dinheiro, visando tornar Phantom Dust um jogo multiplayer focado em eSports. Posteriormente, a Microsoft decidiu exigir uma campanha, mas não ofereceu recursos adicionais para isso.

O trailer de 2014 assustou o estúdio Darkside, visto que era falso e tudo que foi apresentado nunca existiu durante o desenvolvimento do game. Além disso, a arte exibida no trailer era muito diferente da presente na versão trabalhada, já que o estúdio estava se inspirando na arte original de Phantom Dust, enquanto o trailer buscava um aspecto mais realista. Apesar das adversidades, o estúdio levou o projeto a sério, transferindo mais de 50 funcionários para trabalhar no jogo. No entanto, conforme o tempo passava, o projeto exigia cada vez mais recursos, e a Microsoft não estava interessada em fornecê-los, o que culminou no cancelamento do game e, consequentemente, no fim do Darkside Game Studios.

Infelizmente, pouco se sabe quais são os planos da Microsoft com essa propriedade intelectual. O projeto do reboot foi inicialmente engavetado, aguardando um novo desenvolvedor para assumi-lo, mas em pouco tempo anunciaram seu cancelamento em definitivo. É uma pena, visto que Phantom Dust é um jogo que, caso feito de forma correta, tem um potencial absurdo de sucesso, ainda mais com o Xbox Game Pass para ajudar.

Uma pérola escondida do Xbox

O veredito final, após todo este texto, é bem claro: temos aqui uma das pérolas escondidas do Xbox original. Seus conceitos o tornam um jogo completamente único, uma experiência que, infelizmente, até hoje ninguém conseguiu replicar. Phantom Dust consegue ser competente em quase todos os seus aspectos e oferece uma experiência muito a frente de seu tempo. A Microsoft tem uma pérola em suas mãos, que só precisa de um pouco de cuidado para voltar a brilhar. Nota Final: 9.0/10

Prós:

  • Gameplay muito única
  • Variedade de skills
  • Trilha sonora incrível
  • Estética passa uma vibe muito boa
  • História intrigante

Contras:

  • Câmera fixa pode atrapalhar em alguns momentos
  • Suportes que pouco te ajudam

Phantom Dust: O veredito final, após todo este texto, é bem claro: temos aqui uma das pérolas escondidas do Xbox original. Seus conceitos o tornam um jogo completamente único, uma experiência que, infelizmente, até hoje ninguém conseguiu replicar. Phantom Dust consegue ser competente em quase todos os seus aspectos e oferece uma experiência muito a frente de seu tempo. A Microsoft tem uma pérola em suas mãos, que só precisa de um pouco de cuidado para voltar a brilhar. budabyte

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von 10
2024-02-28T22:43:00-0300

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