Sonic Racing: Crossworlds – Análise

Rafael Mendonça
Rafael Mendonça

Toda vez que vejo alguém comentando que não faz sentido o Sonic estar em um carro de corrida, se ele pode correr a pé contra os outros participantes, eu fico maluco da cabeça: por acaso numa maratona dá para ir de carro? E numa corrida de carros, dá para ir a pé? Numa corrida de motos, dá para usar um caminhão? Acho que não, né. Regras são regras… com exceção do Sonic R – lá é cada um por si e ninguém é de ninguém.

Por mais caótico que seja um jogo de kart (e do Sonic, ainda por cima), regras também são regras e o bicho faz questão de andar de carro ou de prancha, porque o importante não é ganhar e sim competir. Jogos de corrida do Sonic não são novidade alguma; ele está desde 1994 andando por aí de carrinho, lá no Sonic Drift. O que ele tem de anos de habilitação é mais do que muita gente tem de vida. Deixem o menino Sonic dirigir.

Deixa os garoto brincar (olha pra frente, Sonic)

Fato é que o gênero de corrida, por questões mais que óbvias, sempre combinou com a série Sonic – ainda mais levando em conta a quantidade de personagens, fases e itens icônicos que podem ser utilizados como referência numa grande festa. Os jogos de corrida que, antigamente, tentavam fugir do famigerado “Clone de Mario Kart” com propostas que eram mais fora da curva (sem piada embutida), foram, aos poucos, aceitando que o gênero de kart era o caminho mais esperado e que, se há algo que poderia bater de frente com um Mario Kart, seria um Sonic Kart – ou o que eu gosto de chamar carinhosamente de Sonicorrida.

A série dos jogos de Sonicorrida, com o foco em corrida de kart especificamente, já tem mais de 15 anos, desde o primeirão All Stars Racing e, a partir dele, foi ganhando uma identidade e mecânicas próprias com o mais que maravilhoso Sonic All Stars Racing Transformed, o nem tão maravilhoso assim Sonic Team Racing, e o agora, mais que recente e esperado Sonic Racing: Crossworlds.

O jogo passou por alguns testes abertos e muita gente já pôde conferi-lo antes mesmo do lançamento – a Sega parecia mais que confiante na qualidade do título e fez um marketing bastante presente desde o anúncio até o lançamento. Mas, e o produto final, como ficou? Venha conferir com a gente na análise de mais um jogo dessa série que troca de nome a cada nova iteração.

Pelo amor de Deus, Sonic, entre nesse carro e olha pra frente!

Correr é um grande evento social

Se há algo que Sonic Racing: CrossWorlds deixa perceptível logo de início é o quanto o jogo passa essa sensação de você estar fazendo parte de uma grande festa ou evento: desde a música chiclete da abertura e que continua nos menus seguintes, até os efeitos visuais de confetes para tudo quanto é lado, a torcida que está assistindo a todas as corridas nos lugares mais inóspitos possíveis, a trilha sonora que, em alguns momentos, parece ter saído de uma celebração das Olimpíadas e, principalmente, o foco ativo em eventos exclusivos no modo online.

O jogo recepciona o jogador de uma forma bem simples, mas ao mesmo tempo confortável: apesar de ser obrigatório ter de jogar o primeiro campeonato offline com o Sonic para habilitar outras funcionalidades e personagens, após essa primeira “obrigação”, a tela inicial se resume a apenas duas opções: jogar localmente ou jogar online. Você escolhe o tipo de evento ou a modalidade do jogo online, convida seus amigos (através de um ID único num sistema bem fácil de navegar) e corre. Simples assim, sem muita dificuldade. A ideia de ser fácil de entrar e fazer o que tem que ser feito já é um ótimo ponto positivo e parece ter pego bastante da ideia de jogos como Fortnite ou o Fall Guys.

As partidas online trazem eventos marcados em datas específicas que mudam algumas regras das corridas – normalmente a regra padrão é correr sozinho e marcar sua melhor colocação em 3 voltas. Porém, dependendo do evento ativo, as partidas online se transformam em uma corrida dividida por 3 times (definidos de acordo com a temática do evento) em que o jogador está ativamente correndo com outros integrantes para conseguir a melhor pontuação geral do time. Nesses eventos, não basta apenas chegar em primeiro lugar e sim garantir que seu time também tenha uma boa colocação, já que as notas são somadas em conjunto, além de pontos extras que podem ser obtidos realizando ações diferentes ao longo da partida.

Os detalhes online do jogo, que até então está com uma base muito ativa e com bastantes eventos ao longo do mês, dão uma sensação de continuidade e progressão para além das opções disponíveis do modo offline. Todo evento novo traz novas modalidades, colecionáveis que podem ser utilizados para modificar o carro e, vez ou outra, personagens e fases habilitáveis, alguns gratuitamente. Até o momento desta análise, a personagem Hatsune Miku foi habilitada para todos os jogadores, enquanto o Steve, a Alex e o Creeper do Minecraft ficaram disponíveis de forma paga – mas com a presença de um evento online em que todos poderiam jogar uma fase nova no mundo do Minecraft.

O outro ponto que reforça essa sensação de estar em um grande evento, e o mais importante de todos, é poder jogar junto com outros amigos – e o jogo apostou em um modo crossplay, que é talvez o ponto mais forte de Sonic Racing: CrossWorlds. A possibilidade de poder jogar junto e contra qualquer jogador de outro console ou PC ajuda totalmente na fluidez das partidas online – é rápido entrar em partidas, convidar amigos, criar salas privadas –, tudo é tão prático quanto um “partiu? partiu!”.

É justamente a simplicidade um dos pontos que aparece constantemente no jogo e que também faz parte do seu gameplay: Sonic Racing: CrossWorlds é, de longe, o mais acessível da franquia dos jogos de Sonicorrida.

PELO AMOR DE DEUS, OLHA PRA FRENTEEEE!

Simplificado e revisado

Deixando claro que ser simples não significa ser pior, muito pelo contrário, significa ser interessante e desafiador o suficiente para todos os tipos de jogadores. E isso só foi possível ao olhar para trás, revisitar todos os jogos de corrida da franquia e revisar tudo o que poderia ser melhorado, o que poderia ser mantido e também o que poderia ser descartado.

Sonic Racing: CrossWorlds é uma mistureba de tudo o que funcionou, ou poderia funcionar melhor, dos jogos anteriores. A jogabilidade é extremamente simples e os comandos não são diferentes de um Mario Kart da vida: você acelera, freia, usa itens especiais nos inimigos, faz drift, e agora dá até para buzinar sonzinhos que você customiza. O que difere aqui são algumas mecânicas intrínsecas e algumas modalidades de jogo bem especiais que dão um pouco mais de dinamismo e caos nas corridas.

Os personagens possuem 5 tipos de habilidades que alteram os status de controle dos veículos, assim como cada veículo possui suas próprias características, divididos entre carros e pranchas – veículo que veio da série Sonic Riders. Além das habilidades inócuas a cada personagem, é possível subir de rank ao longo das corridas e habilitar espaços para modificadores que podem alterar de forma bem equilibrada e dar pequenas vantagens nas corridas, como aumento de itens de ataque ou gerar mais velocidade coletando rings – mecânica que é muito similar ao esquema de modificadores do Sonic & All Stars Racing Transformed. Além dos personagens, você pode customizar os veículos de forma bem completa, alterando peças (que também alteram os status do veículo) e modificando detalhes como a cor, tipo de textura da lataria, adesivos e barulhinhos de buzina – funcionalidade que era um dos detalhes mais legais do Team Sonic Racing.

O jogo voltou a utilizar o esquema de transformações de carros e de fases, funcionalidade que era o ponto mais alto do Sonic All Stars Racing Transformed. Aqui, as transformações são um pouco mais simplificadas; o veículo não muda de aparência em si, mas cada tipo de ambiente tem uma forma diferente de se controlar – além da tradicional corrida de carro, os veículos também podem voar ou virar uma lancha em alguns trechos. Voando, a direção fica um pouco mais aberta e lenta, enquanto na água é bem mais difícil fazer a curva, mas muito mais fácil de usar o boost.

Tirando a navegação no ar, os personagens podem aproveitar o momento em que os carros estão executando algum pulo para fazer várias manobras ao mesmo tempo, numa mescla das funcionalidades vistas em Sonic Riders e no Sonic Transformed, basta apenas apertar o direcional. Tudo é executado de uma forma muito prática e é extremamente viciante ficar fazendo manobras no ar. Para quem conhece bem a franquia, vai perceber um detalhe muito bacana: várias poses dos personagens feitas durante as manobras são referências às poses de artes oficiais dos jogos de que eles fazem parte.

Sério… eu desisto.

Já durante as corridas, o jogo foca no modo cada um por si, com opções de campeonatos e modo de disputa de tempo entre as fases, mas também apresenta um modo em equipe, tanto local quanto no multiplayer, principalmente durante os eventos – mecânica totalmente importada do Team Sonic Racing, algo que era o foco no jogo e que deixou bastante a desejar na época, e que aqui foi revisado de forma mais interessante. As atividades em grupo acontecem eventualmente e dão dinamismo para além das corridas normais. Além disso, nos eventos online, a cada meia hora de jogo, as regras mudam para ganhar pontos extras, o que motiva os jogadores a utilizarem personagens, carros e habilidades diferentes.

A dificuldade do jogo está diretamente atrelada à velocidade escolhida. Quem jogou os betas iniciais pode ter-se desmotivado inicialmente pela velocidade baixa nas corridas, mas, por alguma decisão estranha da Sega, o primeiro beta só tinha habilitado a velocidade básica, que é, de fato, bem devagar. Tanto nas corridas offline quanto nas salas entre amigos online é possível escolher o modo de dificuldade que interfere na velocidade dos veículos e, claro, os modos mais divertidos estão nas velocidades mais altas. Deixo como recomendação, inclusive, trocar a câmera do jogo que vem como padrão de “normal” para “dinâmica”, pois a sensação de velocidade é ainda maior – curioso eles não terem habilitado essa opção logo de cara. Durante o modo online tradicional, não é possível modificar a velocidade, mas ela está ajustada em um “meio termo” ideal para causar o caos nas corridas, mas ao mesmo tempo ser possível distinguir o que está acontecendo.

As corridas contam com os já esperados itens usados tanto para benefício próprio quanto para atrapalhar os inimigos. Os itens presentes aqui também são uma mistura de itens dos outros jogos de corrida do Sonic, porém mais equilibrados. Ainda sinto falta de itens característicos como as bolhas de proteção dos jogos clássicos (que aqui virou um escudo genérico), além de achar alguns itens repetitivos ou confusos de se entender (como os chao), mas no meio do caos da corrida, você só aceita o que vem e usa. Com o tempo, os itens vão fazendo sentido e você define qual a melhor estratégia: se blindar e acelerar para ganhar vantagem ou ter itens de ataque para sempre desfavorecer quem está próximo de você.

Essa simplicidade, junto à quantidade de opções e variações disponíveis, sempre deixa o jogo dinâmico, principalmente no modo online, já que cada corrida pode trazer uma novidade diferente ou modificar sua estratégia para conseguir uma boa colocação. No modo offline, também existem modos extras com atividades em grupo, mas nos campeonatos (que é possível jogar com até 4 jogadores locais), o jogo aposta em um sistema de rivais muito similar a jogos antigos da Sega como o Monaco GP e o OutRun, em que seu foco, para além de ganhar o campeonato, está em ficar na frente do seu rival no placar geral.

Cada personagem escolhido pode enfrentar qualquer rival e cada um deles tem um diálogo específico entre si – isso de longe foi um dos detalhes mais legais do jogo ao meu ver. Muitos personagens da franquia nunca se encontraram antes e, nesse caso aqui, você consegue ver pela primeira vez a interação entre eles e pescar algumas referências aqui e ali de eventos ou personagens que eles citam nessas conversas. Só esse detalhe simples vale muito a pena para quem é super fã de Sonic.

Além de todas as mecânicas, o jogo apostou em um número bem alto de personagens: até o momento desta análise, contando personagens extras de DLC, o jogo tem 31 personagens jogáveis, porém há mais personagens, gratuitos e pagos, que serão habilitados mensalmente até 2026, completando um total de 54 personagens.

Passei um bom tempo descrevendo apenas as mecânicas, mas a dinâmica das fases é um dos detalhes mais especiais de Sonic Racing: CrossWorlds.

Sonic e Shadow, respectivamente (o DLC ainda será lançado)

Na pista pra negócio

A quantidade de fases já disponíveis originalmente também é bem alta: são um total de 39 pistas exclusivas, além das pistas novas de DLC que chegarão mais à frente. As fases são todas focadas no universo do Sonic, algumas totalmente exclusivas para o jogo com temáticas relacionadas à franquia, mas também teremos fases focadas nas franquias parceiras que estão confirmadas nos próximos DLCs. Atualmente, foi adicionada a pista do mundo do Minecraft e a pista do Bob Esponja chega em breve, até o final de 2025.

As fases possuem duas variações: fases “principais” que estão fixas nos campeonatos ou na seleção de fases aleatórias no modo online, e as fases CrossWorlds, que aparecem aleatoriamente durante a corrida.

Essa distinção gera, talvez, a mecânica mais exclusiva do jogo: nos modos tradicionais de jogo, ao escolher uma fase, a segunda volta NUNCA será realizada na fase principal. Ao final da primeira volta, o jogador que está em primeiro lugar tem de decidir, num esquema igual ao Outrun, se irá para o caminho da direita ou esquerda. Cada um dos caminhos possui uma pista diferente da atual e todos os jogadores são, em seguida, arremessados na pista escolhida após atravessarem o portal. Após a segunda volta, o portal se revela mais uma vez ao final da pista, mas trazendo os jogadores de volta para a pista inicial, porém com alguns atalhos novos na pista para cortar caminho e deixar a volta final ainda mais dinâmica.

A ideia, que inicialmente parecia bastante confusa e cansativa nos trailers de anúncio do jogo, mostrou-se bastante intuitiva e divertida na prática. Trata-se de uma mecânica bastante divisora: algumas pessoas podem não gostar muito de como as fases trocam o tempo todo, dando uma sensação de que as pistas são mais “genéricas” ou carecem de conteúdo suficiente para se manterem por si próprias. E fato é que, em alguns momentos, essa simplicidade que elogiei tanto parece esbarrar um pouco com pistas mais simplificadas e menos desafiadoras, mas sinto que, tirando pistas iniciais mais simples, todo o conteúdo apresentado é bastante único e diferenciado.

A mecânica de troca de pistas em si não pode ser removida dos modos normais do jogo, mas é possível jogar em modos mais específicos, como o de desafio de tempo, apenas uma única fase – e nisso se revela um detalhe muito importante que não é tão visível inicialmente: todas as pistas têm voltas com detalhes completamente diferentes entre si, para cada uma das três voltas. Não apenas a música muda por volta, ficando cada vez mais dinâmica (ou dramática até demais, confesso que não gostei nem um pouco da sonoridade das músicas que são cantadas em coro nas voltas finais), mas os detalhes de cada fase também sofrem alterações do início ao fim, muito similar à mecânica já apresentada no Sonic All Stars Racing Transformed.

Apesar das pistas CrossWorlds aparecerem apenas aleatoriamente nos modos originais, é possível selecioná-las separadamente nos modos especiais e todas elas também possuem variações na música e na fase na primeira e terceira volta, detalhe que você nunca vai conseguir ver normalmente jogando nos modos habituais.

Os campeonatos no modo offline também têm uma alteração que achei curiosa: geralmente em jogos de kart, os campeonatos são feitos sempre de 4 corridas com pistas distintas. Nesse Sonicorrida, cada campeonato tem 3 pistas originais e a pista final é uma junção dessas três pistas, cada uma em uma volta, não sendo possível escolher o destino na segunda volta – achei a decisão bem inteligente, inicialmente fiquei com uma sensação de repetitividade, mas na prática isso não acontece.

Alguns campeonatos ainda estão desabilitados devido às fases de DLC que ainda estão chegando, porém o pacote completo da versão atual do jogo é bem grande. Também é possível habilitar uma dificuldade com as pistas espelhadas. Apesar de uma mudança pequena, é algo que eu sempre achei divertido. Só senti falta das pistas em um modo reverso, mas imagino que seja difícil de se fazer por conta das mudanças constantes de cada volta.

No mundão do Minecraft – com o Steve dirigindo sem olhar pra frente, claro

Tudo junto e misturado

Depois de tanto elogio, fica fácil chegar à conclusão de que Sonic Racing: CrossWorlds é um jogo de corrida mais que excelente, bem completo como um todo, desde a quantidade de personagens e pistas até às mecânicas presentes e modos de manter o jogo sempre ativo de forma online. Mesmo eu que não curto tanto jogar online não consigo deixar de fazer algumas partidas por ser algo simples, divertido e recompensador, principalmente nos eventos que dão itens cosméticos extras para customizar seu carro e perfil online.

Trata-se de um jogo que soube aproveitar 15 anos de um formato que iniciou na geração X360 e PS3 com o primeiro Sonic All Stars Racing e aprender com os erros de títulos não tão interessantes, como o Team Sonic Racing, e manter aquilo que mais diverte e empolga, como as mecânicas do Sonic Transformed. Para além disso, o jogo parece revisitar algumas boas lembranças de quando a Sega fazia, e muito bem, jogos de corrida com essa experiência mais arcade, tal qual um Outrun ou um Sega Rally.

O único porém que deixo aqui fica apenas na temática, ainda muito centrada nos jogos de Sonic. Obviamente é o foco por ser a série de maior sucesso da Sega, mas vindo de alguém que ama tanto os jogos dessa empresa, sinto muita falta do fan service do Sonic Transformed com mais personagens e fases de jogos variados. Também sinto falta de um modo mais exclusivo em uma campanha principal para além dos campeonatos, igual ao do Sonic Transformed, que era bem único. De toda forma, o jogo está apostando alto em conteúdos de outras franquias, não necessariamente da Sega, e parece atirar para todo lado para conquistar um público diferenciado – e isso é muito bom.

Sonic Racing: CrossWorlds é um jogo que tem tudo para ficar ainda, por muitos anos, sendo um dos melhores jogos de kart da atualidade, seja por sua alta qualidade, pela quantidade de pessoas ativas online em modo crossplay, e pelo conteúdo novo que ainda está por vir.

Esta análise é baseada na cópia de PS5 fornecida pela SEGA e Theogames.

TRIVIA: É impossível olhar pra frente em Sonicorrida
Sonic Racing: Crossworlds
9.5
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