Assassin’s Creed Mirage – Análise

Gabriel, vulgo Buda (@budabyte)
10 min de Leitura

Quando Assassin’s Creed Mirage foi anunciado, fui tomado por uma sensação de nostalgia, lembrando da época em que a franquia ainda estava focada no stealth, e também da estética específica dos primeiros jogos. Como um jogador que não é dos maiores fãs dos atuais Assassin’s Creed por serem mais voltados para o RPG, fiquei feliz com a possibilidade de reviver boas memórias do passado da franquia. A experiência foi interessante, mas deslizes foram cometidos no percurso.

A história de Basim

Nossa jornada começa direto ao ponto: Basim, nosso protagonista, e sua amiga Nehal, planejam furtar um precioso objeto do califa, mas acabam assassinando o líder no processo. Reconhecendo o potencial de Basim, Roshan, um importante membro dos Ocultos, oferece ajuda e um novo lar, livrando o novo assassino da enrascada em que se meteu. Assim começa a longa jornada de Basim para enfrentar os opressores de Bagdá.

Basim e Roshan são bons personagens. O protagonista possui uma história misteriosa ao seu redor, com pouco revelado sobre seu passado ou os pesadelos que o atormentam. Roshan, mestre dos assassinos, é uma mulher de personalidade forte e serve como uma líder para Basim. No entanto, Assassin’s Creed Mirage enfrenta um problema significativo: a falta de personagens marcantes.

Basim e Roshan, os personagens mais interessantes de Assassin’s Creed Mirage / Reprodução: Autor

Durante minha jornada de pouco mais de 15 horas até o fim da campanha, fiquei impressionado negativamente com a falta de personagens importantes ou memoráveis. Algo comum em outros Assassin’s Creed, sejam figuras históricas ou personagens originais, sempre foram os personagens marcantes, mas neste título isso pouco existe. Ninguém é desenvolvido o suficiente para fazer o jogador se importar, e não há qualquer tentativa de criar conexões emocionais entre nós e os personagens, que parecem vazios e sem alma.

Outro ponto que pode irritar alguns é a falta de trechos de gameplay nos dias atuais. Em títulos anteriores, sempre tivemos momentos em que saímos do Animus e voltamos ao presente, servindo como uma forma de unir todos os títulos da franquia num único universo. Em Mirage, não há qualquer menção aos tempos presentes, sendo uma oportunidade perdida de desenvolver ainda mais a lore da franquia.

Dervis parecia ser um personagem importante para Basim, mas se tornou só um simples comerciante, um exemplo de péssimo aproveitamento / Reprodução: Autor

Gameplay: o ponto forte

Assassin’s Creed Mirage se desprende das amarras do RPG e volta ao estilo mais clássico, focando bastante no stealth, algo que muitos fãs já pediam há anos. As missões do jogo, no geral, desencorajam o jogador de procurar combate e oferecem diversas opções no cenário para manter Basim nas sombras. As missões envolvendo os chefões da Ordem, por exemplo, oferecem diversas maneiras de serem solucionadas, cabendo ao jogador explorar o ambiente para encontrar diferentes formas de cometer o assassinato.

Apesar do combate não ser a melhor opção neste jogo, há ferramentas que podem ajudar. Uma roda de itens foi introduzida, semelhante a de outros jogos. Ao abri-la, o tempo fica em câmera lenta, permitindo escolher o item desejado. Esses itens podem ser desbloqueados através da árvore de habilidades e são muito úteis, auxiliando o jogador a terminar uma missão sem ser notado pelos guardas, por exemplo.

Roda de itens / Reprodução: Autor

A polêmica mecânica “foco de assassino” causou burburinho quando foi exibida pela primeira vez. Basim pode entrar em câmera lenta e selecionar um número limitado de inimigos para atacar, enquanto se teleporta. Inicialmente, pareceu uma trapaça, mas ao experimentar a mecânica, percebi que é divertida, além de não estar disponível a todo momento. A quantidade de inimigos que podemos atacar com o foco de assassino é limitada, principalmente devido ao alto número de guardas em Bagdá. No fim, acabou sendo uma mecânica válida, e não há nada de errado nela.

E não podemos esquecer, é claro, do parkour, um dos pontos mais importantes da franquia Assassin’s Creed. Neste jogo, o parkour exige mais precisão, com locais de salto e escalada mais limitados em relação aos títulos anteriores, exigindo mais atenção do jogador. Embora a movimentação não seja tão realista, sinto que esse é o melhor sistema de parkour desde Assassin’s Creed Unity, que oferecia uma experiência mais lenta e cadenciada.

O ambiente de Assassin’s Creed Mirage foi muito bem construído pensando no parkour / Reprodução: Autor

Linearidade vs. Liberdade

É nesse momento que eu “quebrei a cara”: a linearidade não casa mais tão bem com Assassin’s Creed. Sempre fui contra o amplo mundo aberto dos jogos anteriores, das mais de 50 horas para finalizar a campanha e das infinitas missões secundárias, mas ao jogar Assassin’s Creed Mirage, posso dizer que senti saudades de tudo isso. Ainda sou contra o tamanho exagerado dos games, mas algumas características se tornaram definitivas, e não consigo mais ver um jogo da franquia sem elas.

As missões de Mirage, como esperado, são extremamente lineares. Vá até algum local, descubra pistas e mate uma certa pessoa. Até o fim do jogo, nos deparamos com esse mesmo padrão, sem exceções. Apesar de preferir este estilo em relação aos colossais mundos abertos, acredito que a linearidade extrema não é o caminho certo para a franquia, visto que a experiência ficou relativamente cansativa. Pelo menos, durante as missões, a história é diferente, visto que temos diversos meios de atingirmos nosso objetivo através do stealth. Portanto, apesar de cansar com o tempo, as missões ainda podem ser divertidas.

Vá até lá e mate aquele cara, a missão mais comum de Assassin’s Creed Mirage / Reprodução: Autor

Bagdá é incrível, mas personagens nem tanto

Como todo jogo da Ubisoft nos últimos anos, a ambientação de Assassin’s Creed Mirage é incrível. Bagdá é um deleite para os olhos e, por ser um mapa mais fechado, possui ainda mais detalhes em relação aos jogos anteriores. Embora não esteja no nível de realismo de Assassin’s Creed Unity, os cenários são muito bonitos e acurados com a cultura da cidade. Minha experiência na qualidade Ultra no PC foi ótima, mas ainda há algo que me incomodava: os personagens.

Se os gráficos são impressionantes, os personagens são o completo oposto. Acredito que por conta do menor investimento no título, faltou mais capricho na modelagem. As expressões faciais são pobres e pouco demonstram as emoções dos personagens, e unidas a dublagem em português não muito boa – provavelmente afetada pela pandemia e home office –, se tornam um dos pontos mais fracos de Assassin’s Creed Mirage.

Bagdá é um local incrível / Reprodução: Autor

Uma experiência nostálgica, mas que poderia ser mais caprichada

No fim das contas, Assassin’s Creed Mirage conseguiu o que queria: apelar para a nostalgia do primeiro título da franquia. Linearidade, foco em stealth, um mapa mais fechado e uma campanha mais curta, tudo remete ao primeiro game, mas assim como lá em 2007, faltou mais capricho e polimento. Certamente a experiência vai agradar os que sentem falta da antiga vibe da franquia, mas talvez não seja uma experiência muito marcante. Ao jogar, lembre-se que é um produto de menor investimento e menor preço. Nota final: 7.5/10.

Prós:

  • Ambientação de Bagdá é incrível
  • Basim é um bom protagonista
  • Um dos melhores stealths da franquia
  • Ótimo sistema de parkour
  • Variedade de soluções para as missões

Contras:

  • Falta de personagens marcantes
  • Expressões faciais de baixa qualidade
  • Dublagem fraca
  • Linearidade pode ser cansativa

Assassin's Creed Mirage: Assassin’s Creed Mirage conseguiu o que queria: apelar para a nostalgia do primeiro título da franquia. Linearidade, foco em stealth, um mapa mais fechado e uma campanha mais curta, tudo remete ao primeiro game. Porém, assim como lá em 2007, faltou mais capricho e polimento. Certamente a experiência vai agradar os que sentem falta da antiga vibe da franquia, mas talvez não seja uma experiência muito marcante. budabyte

7.5
von 10
2024-06-24T21:45:08-0300
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