Eternal Strands é um RPG de ação com elementos de rogue-like, produzido pelo estúdio Yellow Brick Games, formado por ex-desenvolvedores da Ubisoft e Bioware. Lançado em 28 de Janeiro de 2025, esse é o primeiro grande título do estúdio, e já de cara podemos notar o escopo ambicioso decidido durante o desenvolvimento que, ao meu ver, não foi uma boa escolha. O jogo bebe de diversas fontes diferentes, como Shadow of the Colossus, The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom e, curiosamente, Fortnite. Curioso pra ver no que vai dar essa mistureba? Vem comigo nessa análise!
Tricotando a história
Em Eternal Stands, estamos no comando da Tecelã Brynn, uma guerreira e maga do mundo de Strands em busca da cidade perdida de Enclave, que se assemelha com a lendária civilização perdida de Atlântida do nosso universo. Seu objetivo é trazer paz e tranquilidade a um mundo pós-apocalíptico, devastado depois de inúmeras guerras entre guerreiros e magos. Para alcançar esse propósito, Brynn deve conectar o mundo utilizando portais, chamados de “Portear”, buscando conseguir novos recursos e magias para garantir o sucesso da missão.
O jogo se inicia com a nossa guerreira junto de um grupo de sobreviventes em uma caravana à procura de um portal para Enclave. No meio do percurso, Brynn esbarra em Ark, um robô ancestral que carrega em seu núcleo uma magia capaz de conter “Nós”, neblinas escuras e venenosas, letais aos seres vivos desse mundo, e que por algum motivo desconhecido está se espalhando pelo mundo de Strands. Com a ajuda do novo amigo robótico, Brynn e seu grupo adentram aos portões de Enclave, atravessando véu de magia. Logo na entrada, o grupo se estabelece através de um acampamento, e assim nossa jornada oficialmente tem início!
Ponto sem nó
Se me pedissem para resumir Eternal Strands em uma única palavra, eu com certeza diria “ambicioso”. A Yellow Brick Games mesclou diversas mecânicas em um único título, e quando comentei que ele era uma amálgama de Shadow of the Colossus, Zelda e Fortnite, eu não estava brincando. Embora ele seja um RPG de ação em sua essência, elementos de rogue-like foram inclusos nas fases para aumentar de forma artificial o tempo de gameplay. Além disso, enxertaram elementos de Fortnite, como itens com grau de raridade e mecânicas de tiro e movimentação que lembram muito o jogo da Epic. Os chefes são claramente uma referência a Shadow of the Colossus. Já todo o restante da gameplay se assemelha muito a The Legend of Zelda, principalmente os últimos títulos, Breath of the Wild e Tears of the Kingdom. Você deve estar se perguntando: “então Eternal Strands não tem nada de original?”. Bem, os momentos de originalidade existem, mas é justamente neles que o jogo peca. Vamos aos pontos!
Primeiro ponto: a história. Embora pareça simples, ela vai se desenrolando de uma forma cansativa de acompanhar. São centenas de diálogos que, no decorrer da jogatina, você simplesmente deixa de ligar e só deseja começar as fases de uma vez. Outro fator a se destacar – e que fique claro: não me incomoda de forma alguma –, é a presença de personagens não-binários. Em nosso grupo, contamos com a presença de Lean, que se apresenta basicamente em forma de um “checklist de diversidade”. É visível que sua inclusão não foi feita de forma natural, causando efeito oposto ao desejado. Infelizmente, muitas pessoas vão acabar ignorando ou repudiando o personagem, apenas pela péssima forma como ele foi introduzido.
Segundo ponto: a gameplay. Embora o jogo copie e cole diversas mecânicas de outros títulos de sucesso, Eternal Strands não costura muito bem todas elas. Por exemplo, ao escalarmos algo, nosso personagem nem sempre agarra à parede. O sistema de frio e calor também tem seus momentos de indecisão, e muitas vezes simplesmente não funciona. Problemas como esses escancaram a falta de polimento do título, e fica a dúvida: será que a causa disso tudo foram os ex-desenvolvedores da Ubisoft? (piadinhas)
Terceiro ponto: o mundo. Eternal Strands entrega ao jogador um mundo aberto bem grande para explorar desde o início, e a cada novo portal desbloqueado, o território aumenta ainda mais. Na teoria, isso deveria ser bom, né? Mas infelizmente na prática é péssimo. Assim como em jogos recentes da Ubisoft – olha ela sendo mencionada novamente –, o mundo é inflado como um Zeppelin, com diversos ícones e objetivos secundários inúteis. Embora o jogo comece com missões simples e fáceis de se completar, elas logo evoluem para objetivos que insultam a sua inteligência, como “busque tal item em 4 mapas diferentes”, com o claro objetivo de inflar o tempo de jogo. Falando nisso, levei cerca de 34 horas para finalizar Eternal Strands, e me senti exausto com tanto vai e vem, diálogos desnecessários e problemas técnicos.
Antes de finalizar com as minhas considerações, há sim alguns pontos no qual devo elogiar Eternal Strands. Sua direção de arte é excelente e as cutscenes são muito bem feitas, lembrando animações recentes como She-Ra e He-Man da Netflix. As armas e armaduras coletadas no decorrer da gameplay são de encher os olhos. Toda a temática de costura e crochê também foi muito bem implementada, e as magias que Brynn aprende são muito legais de usar, sendo que descobrir a forma como essas magias funcionam contra inimigos e chefes é uma das partes mais divertidas do jogo.
Corte final
É notável que a Yellow Brick Games possui desenvolvedores talentosos e que, com foco, poderiam facilmente bater de frente com grandes empresas, como a própria Bioware e Ubisoft, local de onde vieram os funcionários. Mas, para isso acontecer, é necessário ter foco, algo que Eternal Strands está longe de possuir. Não adianta ter mil e uma mecânicas e todas funcionarem de forma “meia boca”.
Parabenizo os desenvolvedores por conseguirem lançar um jogo de um escopo tão grande logo na primeira tentativa, e espero que levem em consideração todas as críticas construtivas que os jogadores tecerem em relação ao título. Assim como um tijolo, a Yellow Brick Games precisa ser lapidada para se tornar sólida, e assim conseguir sucesso em sua construção. Ao ter conhecimento de Eternal Strands, fiquei empolgado com tudo que vi, mas a sensação de frustração tomou conta logo ao terminar a jogatina. Não era a análise que eu gostaria de ter feito, mas foi necessário, infelizmente.
Conclusão
Eternal Stands é um jogo que peca pelo excesso. Embora apresente um mundo interessante e majestoso, ele logo perde a sua cor quando percebemos que o jogo está mais interessado em te fazer perder tempo do que divertir, com diálogos longos e expositivos, missões inchadas com objetivos complexos e, para finalizar, uma gameplay mal polida e com incontáveis bugs. Eternal Strands ainda tem seus pontos positivos em meio a isso tudo, mas ao mesmo tempo está repleto de questões a serem aprimoradas.
Esta análise é baseada na cópia de PC fornecido pela Yellow Brick Games.