Avowed – Análise

Gabriel Kreyssig Romualdo (@budabyte)
Gabriel Kreyssig Romualdo (@budabyte)

Desenvolvido pela Obsidian Entertainment, Avowed é o primeiro grande jogo do Xbox no ano de 2025. O título chega para mostrar toda a expertise adquirida pelo estúdio com suas produções anteriores, como Fallout: New Vegas, Pillars of Eternity e The Outer Worlds. Sendo um RPG de ação, Avowed ficou conhecido entre o público gamer por suas semelhanças com The Elder Scrolls V: Skyrim, embora ofereça uma experiência bem diferenciada em relação ao lendário RPG da Bethesda.

Muitos diálogos, exploração, combate dinâmico e uma história repleta de mistérios: vem comigo em mais essa análise e descubra o que as Terras Férteis tem a oferecer!

As Terras Férteis

Avowed se passa no mundo de Eora, conhecido pelos veteranos de Pillars of Eternity, já que o jogo se passa no mesmo universo. Vivemos no Império Aedyrano como uma deidade, isto é, um ser tocado por um deus durante o nascimento. Porém, diferente de outras deidades, não sabemos quem foi o deus que nos deu este potencial, sendo um dos mistérios que carregamos durante a jornada. No decorrer de nossa vida, passamos a servir a Grã-Coroa de Aedyr e, por decisão do Imperador, nos tornamos seu Porta-voz.

A partir daí, a história de Avowed começa a se desenrolar. O imperador de Aedyr pede ao nosso protagonista que vá às Terras Férteis, uma ilha rica e sem leis situada ao norte de Aedyr, para investigar a Praga dos Sonhos, um tipo de corrupção da natureza que assola a região e está incomodando o império. A natureza está sendo tomada por fungos, tornando pessoas e animais hostis, causando preocupação.

Com isso, temos três plots acontecendo: o misterioso deus que nos tocou no nascimento, a Praga dos Sonhos que assola as Terras Férteis e, por fim, uma estranha voz que se comunica conosco durante nossa jornada. Será essa voz nosso deus? Qual é a sua importância? O que ela deseja conosco? Todas essas perguntas, bem como os outros dois plots, vão sendo desenvolvidos no decorrer de nossa aventura.

A história de Avowed, embora possa parecer simples de início, é na verdade bem complexa. O jogo trata de temas políticos profundos envolvendo o Império Aedyrano, além de diversas tretas envolvendo as diferentes nacionalidades e raças dos personagens presentes em seu mundo. Já no início de nossa jornada, somos recebidos com um certo preconceito pelo povo de Costa da Alvorada, que deixam claro não gostar do militarismo de Aedyr. Além disso, sem entrar muito em spoilers, Avowed trata muito bem de temas como a vida, morte e o sacrifício, atrelando isso tudo ao ciclo da natureza. Conforme vamos interagindo com a voz em nossa cabeça, mais as coisas vão ficando claras, embora muitas vezes de forma subjetiva.

Toda essa complexidade pode, infelizmente, acabar afastando novos jogadores, já que o game faz questão de usar diversos temas complexos do mundo de Eora durante seus diálogos. Por diversos momentos vamos ficar perdidos em meio a um mar de informações vindas diretamente de Pillars of Eternity, que se tornam desinteressantes quando não há um devido contexto providenciado. É possível compreender um pouco mais sobre os termos com o simples apertar de um botão, mas as explicações são rasas, não ajudando muito na compreensão.

As missões secundárias, embora não sejam muito complexas, oferecem conflitos interessantes para resolver, seja na base do combate, ou na conversa, acalmando os ânimos. Muitas vezes, o objetivo da missão é simples, como recuperar um certo item, mas o caminho percorrido para obtê-lo é ardiloso, oferecendo combates desafiadores. É claro, vale mencionar que as missões secundárias são uma das melhores formas de adquirir equipamentos únicos, dinheiro e experiência, sendo quase obrigatórias para aqueles que desejam avançar sua jornada sem passar por perrengues.

Um Pilar de Adra, estrutura comum nas Terras Férteis e que tem muito a ver com a história de Avowed / Reprodução: Divulgação

Por último, mas não menos importante, os companheiros. A equipe de Avowed causou um pequeno descontentamento na comunidade ao anunciar que o jogo não teria sistema de romance, mas isso se provou uma vantagem. Nossos companheiros de viagem Kai, Marius, Giatta e Yatzli são carismáticos, cada um com seu background conturbado. Podemos desenvolver conversas mais elaboradas com eles através de nosso acampamento. Kai e Marius, em específico, receberam um destaque especial, já que possuem missões secundárias que vão se desenvolvendo no decorrer da campanha.

Para a exploração, no entanto, o número de companheiro é limitado. Dos quatro disponíveis, podemos selecionar somente dois. Embora faça sentido, visto que o combate iria ficar completamente caótico, senti falta das falas de alguns personagens durante minha jornada. Assim que Giatta se juntou ao meu grupo, deixei Marius de lado, e confesso que gostaria de continuar ouvindo o anão ranzinza, mas isso só era possível no acampamento. De qualquer forma, não é exatamente um ponto negativo, mas sim uma questão de criar uma maior conexão com nossos companheiros.

Yatzli e Giatta, duas de nossas companheiras / Reprodução: Divulgação

Gameplay: o ponto forte

A primeira coisa que fazemos em Avowed é criar nosso personagem. Escolhemos nossa fisionomia entre humano e “elfo”, e alguns backgrounds que irão influenciar nossos diálogos, embora não sejam realmente tão impactantes assim. Quanto à customização, ela é bem robusta, permitindo criar desde verdadeiras aberrações bizarras até personagens muito bonitos. Algo curioso, e que faz sentido quando analisamos a história de nosso protagonista, é que podemos selecionar características de deidade na criação, o que nos permite adicionar tipos de fungos em nosso rosto, alguns mais simples, e outros muito estranhos. Caso você não goste do visual, é possível ocultá-lo, embora os personagens continuem reagindo a eles.

Partindo para a gameplay em si, Avowed é um RPG de ação. Temos uma vasta gama de armas disponíveis, como adagas, espadas, arcos, grimórios, machados, martelos, armas de fogo, varinhas, escudos e mais. Quase todas essas opções podem ser combinadas, resultando em uma grande variedade de possibilidades a serem utilizadas durante o combate. Para tornar tudo isso ainda mais dinâmico, nosso personagem conta com dois espaços de equipamentos, e podemos alterná-los com um simples toque num botão. Deseja usar magia no espaço 1 e espada no espaço 2? É totalmente possível.

Como mencionado anteriormente, o combate de Avowed é bem dinâmico, e tudo vai depender da arma que você estiver usando no momento. Em minha gameplay, foquei totalmente na combinação machado e escudo, o que resultou em ataques fortes junto a uma boa defesa, com a possibilidade de executar a aparada caso acertasse o tempo certo dos inimigos. Tudo vai depender do estilo que o jogador buscar. Quer utilizar varinha e grimório, para ser um mago implacável? É possível, mas lembre-se que você não vai conseguir bloquear ataques inimigos. Pense bem nos seus principais equipamentos, pois isso será muito importante, positivamente e negativamente.

Gameplay de Avowed é divertidíssima / Reprodução: Divulgação

Quanto aos elementos de RPG, Avowed é, possivelmente, uma das experiências mais simplificadas da Obsidian. Elementos clássicos de jogos do gênero, como atributos para aprimorar, e uma árvore de habilidades para desbloquear, estão presentes aqui, mas não de forma extensa. Nossa árvore, por exemplo, se divide nas categorias lutador, patrulheiro, mago, deidade e companheiros. A variedade de habilidades é interessante, mas tudo está atrelado ao combate de alguma forma.

Se você é daqueles que gosta de investir seus pontos em habilidades envolvendo o diálogo, saiba que em Avowed isso é quase inexistente. Realmente, existem opções de diálogo que exigem certos atributos num determinado nível, porém eles pouco influenciam no resultado final. Não existe a possibilidade de investir em carisma, por exemplo, como acontece em diversos outros RPGs. Gosta de jogar no stealth? Sair roubando NPCs? Também não há habilidades para isso, e a mecânica de roubo sequer está presente no game. São decisões estranhas, considerando que a Obsidian já criou jogos mais complexos no passado, como é o caso de Fallout: New Vegas.

O mundo de Avowed se divide em algumas áreas abertas. Embora o conceito de mundo “semiaberto” possa parecer estranho para alguns, ele caiu muito bem aqui. As regiões exploráveis são verdadeiramente grandes, e o game faz questão de usar a característica da verticalidade, apresentando diversas estruturas escaláveis, sendo uma forma genial de ampliar o espaço de um mapa sem que isso signifique mais área disponível. Através da exploração desse mundo, encontramos diversos recursos, que podem ser utilizados para realizar melhorias em nossos equipamentos ou cozinhar alimentos. Sabe o gênero looter shooter? Não seria absurdo chamar Avowed de um looter RPG, pela quantidade de itens encontrados no caminho. Porém, é aí que mora um dos problemas do jogo.

Verticalidade está muito presente nas Terras Férteis / Reprodução: Divulgação

O polêmico sistema de melhorias

Avowed é, em diversos momentos, um jogo punitivo. Mesmo na dificuldade normal, os combates oferecem um desafio interessante, e que pode se tornar ainda mais complexo quando não atualizamos nossos equipamentos para o mesmo nível de nossos adversários. As melhorias vão do nível comum ao lendário, e utilizamos recursos encontrados pelo mapa para realizá-las.

Vamos usar de exemplo a terceira região jogável. Boa parte dos inimigos se encontram no nível soberbo, portanto, para o combate fluir, nossos equipamentos (machado, escudo e armadura no meu caso) precisam ser aprimorados para o mesmo nível, e é aqui que Avowed pode causar uma verdadeira dor de cabeça.

Embora o jogo seja livre de classes, podendo utilizar qualquer equipamento como bem entender – além de possibilitar o reset da árvore de habilidades –, na realidade o sistema não funciona bem assim. A quantidade de recursos encontradas nos mapas, mesmo que aparente ser grande, é relativamente limitada. Gastar materiais atualizando um equipamento que você não irá utilizar no futuro pode ser o fim da linha para sua gameplay, causando problemas para se manter a par do nível de dificuldade da região em que você se encontra.

Além disso, encontrar itens de mesmo nível no mapa beira ao impossível. Se você acha que vai encontrar uma arma melhor apenas porque avançou na campanha, vá tirando o cavalinho da chuva. Mesmo nos últimos mapas, a grande parte dos equipamentos estão no nível comum ou bom. As raras exceções são os equipamentos únicos, geralmente encontrados em locais de difícil acesso. Porém, para você encontrar esses equipamentos no nível adequado, o seu equipamento equipado deve estar no nível ideal, pois é assim que o jogo funciona. Logo, um equipamento único, que deveria oferecer grandes vantagens, pode te deixar na mão, pois está no mesmo nível de seu equipamento atual, apenas com algumas melhorias extras.

Com base em minha experiência, sinto que faltou um sistema de farm em Avowed, assim como em outros RPGs, onde você pode encontrar diversos recursos de forma infinita, já que eles sempre reaparecem. Limitar a quantidade de recursos encontrados pelo mapa também acaba limitando o número de builds que podemos fazer, forçando o jogador a escolher uma gama específica de equipamentos para aprimorar, o que quebra um pouco a liberdade de classes que o jogo deveria oferecer.

Portanto, tenha cuidado ao realizar melhorias em seus equipamentos. Escolha com cautela sua arma e armadura favorita, e siga com ela até o fim do jogo – ou até encontrar um equipamento único que seja melhor e se encontre no nível ideal. É possível seguir avançando caso você esteja um nível abaixo dos inimigos, porém, a dificuldade será maior e os inimigos se tornam esponjas de dano, o que pode frustrar muitos jogadores. Fica a dica!

Meu amado machado com dano de gelo / Reprodução: Autor

Um bom exemplar

Se tem uma coisa que eu devo tirar o chapéu para Avowed é sua direção de arte. O jogo aposta em algo que raramente se vê em excesso nos jogos: fungos. As Terras Férteis estão tomadas por fungos, principalmente variações de cogumelos, sendo facilmente a característica mais marcante do game. Além disso, todas as regiões exploráveis são bem místicas, deixando claro que embora o jogo seja um RPG de ação medieval, ele entrega sem medo uma experiência mais fantasiosa, deixando de lado o realismo. Grandes cidades, pântanos, desertos, regiões vulcânicas, Avowed oferece belas paisagens durante nossa jornada, e me faz questionar: cadê o modo foto, Obsidian?

A trilha sonora de Avowed, embora não tenha uma música que de fato se destaque, ajuda na vibe mística que o jogo deseja passar. Por diversos momentos, me peguei parado, olhando para um belo luar, enquanto uma música ambiente tradicional de RPGs medievais estava tocando de fundo. Para ser bem sincero, pouquíssimos jogos me passaram a mesma sensação até hoje, sendo eles The Elder Scrolls V: Skyrim e The Witcher 3. Andar devagarzinho pelas Terras Férteis enquanto ouvimos uma boa música e apreciamos os fungos é certamente uma ótima experiência.

Quanto a sua otimização, Avowed é mais um dos jogos desenvolvidos na polêmica Unreal Engine 5, conhecida por ser a mais nova casa de diversos projetos que entregam um péssimo desempenho. Porém, a situação aqui se provou contrária, já que o jogo incrivelmente apresenta um bom desempenho, mesmo considerando meu hardware mais modesto. Embora Avowed não seja um dos jogos mais impressionantes da geração, ele ainda entrega uma boa qualidade, principalmente quando unimos seus gráficos à sua bela direção de arte. Presenciei alguns engasgos ocasionais, principalmente dentro de grandes cidades, como Paradis, mas que acabaram não atrapalhando minha experiência.

Avowed é inegavelmente bonito / Reprodução: Divulgação

Divertiu, mas não surpreendeu

Com minha jornada concluída, posso admitir que esperava um pouquinho mais de Avowed. Embora ofereça um combate verdadeiramente divertido, uma história profunda e ótimos mapas para se explorar, algumas questões podem afastar jogadores, como seus diálogos complexos e mecânicas de RPG simplificadas. Além disso, o sistema de melhorias pode se tornar um verdadeiro problema caso não seja utilizado de forma correta. Avowed certamente me entreteve, mas esperava maiores surpresas.

Esta análise é baseada na cópia de PC fornecida pela Microsoft através da Nuuvem e Xbox Game Pass Ultimate.

Avowed
7.5
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