THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake – Análise

Rafael Mendonça
Rafael Mendonça

Em 2023, durante o evento do The Game Awards (aquele famigerado em que o Alan bebeu demais e sumiu), a SEGA apareceu do mais absoluto nada em um teaser divulgando que, de fato, ela “voltou às suas origens”. Do vídeo brotaram alguns títulos clássicos que estão, desde então, fazendo seu retorno aos consoles modernos, como o aclamado SHINOBI: Art of Vengeance (que saiu agorinha em agosto) e outros que ainda estão por vir, como um novo Golden Axe, um Streets of Rage em 3D, um Crazy Taxi e um Jet Set Radio novos.

Apesar de já ser um anúncio esperado por boatos e vazamentos que circulavam semanas antes do Game Awards, muita gente foi pega de surpresa. Mas fato é que essa estratégia da Sega já não é de agora: há alguns anos atrás, uma leva de franquias clássicas da empresa recebeu reboots e novas iterações, algumas com qualidade duvidosa, outras com propostas mais interessantes, como foi o próprio Streets of Rage 4.

Nessa primeira leva, a Sega basicamente entregou seus títulos “para quem quisesse fazer”. E nessa estratégia, a Megapixel pegou os direitos das franquias Panzer Dragoon e House of the Dead, sendo responsável por remakes que estão sendo produzidos até hoje por ela. Remakes de qualidade bem duvidosa, para ser direto ao ponto.

O primeiro título lançado pela empresa foi o remake do Panzer Dragoon, que recebeu notas medianas devido ao seu padrão de qualidade – algo que se manteve inalterável na produção da Megapixel ao longo desses anos. Mais à frente, o primeiro House of the Dead também recebeu um remake que passou batido por muita gente, com resultados similares nas análises da mídia especializada.

E aqui, então, estamos com o THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake, o original que, talvez seja um dos títulos mais icônicos da franquia e que, infelizmente, recebeu o mesmo tratamento aquém das expectativas. A estratégia da Megapixel de lançar o jogo inicialmente para o Switch e depois para os demais consoles se manteve igual nesse caso. Seu lançamento no Switch recebeu notas bastante amargas e piores que o remake do primeiro House of the Dead. Agora em outubro, novas versões do jogo foram lançadas para o PS5 e o Xbox Series X|S. Será que esse tempo de hiato entre os lançamentos foi o suficiente para a Megapixel aprender com os erros e feedbacks de críticas que estão presentes há mais de anos em seus remakes?

The House of the Dead (A casa do Dedé, em português)

A resposta direta: não!

Se há algo que ultimamente me deixa desanimado logo de cara é saber que um jogo vai ser refeito pela Megapixel. O formato deles é o mesmo desde sempre: pegar títulos clássicos que podem trazer relevância e interesse de jogadores nostálgicos apenas pela ideia de serem refeitos e entregar um produto final com baixa qualidade e investimento, com foco em retorno rápido a curto prazo no lançamento dos jogos, que depois despencam o preço em questão de semanas.

A lógica aqui não é nem um pouco diferente em THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake e, na verdade, é ainda pior do que os últimos jogos publicados pela empresa. O jogo foi claramente feito em cima dos moldes do primeiro remake do The House of the Dead, lançado em 2022, só que deixando a desejar e muito nos padrões de qualidade, algo que já não era muito presente. THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake mantém tudo o que precisa manter do original no quesito de jogabilidade e conteúdo: as falas, fases, inimigos e desafios, apesar de refeitos, continuam iguais ao original, o que, de longe, é o ponto mais alto do jogo – apesar de ser algo visualmente questionável, o remake ainda traz de forma “correta” o espírito de se jogar o original, pensando em uma experiência arcade com cerca de meia hora a quarenta minutos de duração. Mas, apesar do elogio, trata-se do mínimo, algo que, pelo menos, seria esperado dada a simplicidade da jogabilidade dos jogos de on-rail shooter.

Nisso, THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake se mantém intocável à versão de Dreamcast, mais especificamente: trata-se de um on-rail shooter básico e bastante focado em ação em que seu objetivo é atirar o mais rápido possível nos zumbis, tomando cuidado para salvar inocentes (e se esforçar muito para não querer atirar neles de tão insuportáveis que são) e, a partir disso, entrar em rotas diferentes da mesma fase para chegar até o boss de forma mais prática ou complicada. Os finais do jogo estão atrelados à pontuação obtida, atirando nos zumbis sem perder a acurácia, além de quebrar itens do cenário para coletar extras que aumentam sua pontuação. Toda essa experiência se mantém intacta aqui e é, apesar do pacote nem um pouco chamativo, um conforto para quem já conhece e curte a versão clássica.

A versão de Dreamcast ainda possuía um modo original com a possibilidade de escolher itens específicos que alteravam um pouco a jogabilidade antes de começar as fases – como dobrar a pontuação, matar inimigos apenas com um tiro só ou aumentar o tamanho da cabeça e das mãos dos inimigos, deixando todos parecidos com mini-craques – era a moda do final dos anos 90, vai entender.

Todos esses modos e extras ainda estão presentes aqui e o jogo ainda vai um pouco além, colocando personagens do primeiro House of the Dead, além de outros personagens extras para serem jogados. Para as versões novas de PS5 e Xbox Series X|S, o jogo conta com algumas texturas refeitas e modo de 60 FPS constante. Curiosamente, até o momento a única opção de linguagem em português disponível parece ser uma salada mista de termos do português brasileiro com o português de Portugal.

O pacote em si não difere tanto da versão original do ponto de vista de conteúdo. O problema, na verdade, é outro. O buraco é mais embaixo.

“É O MENINO DE PAPAI, É?”

Estética importa

O problema de THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake está justamente na estética do jogo: as experiências arcade eram, acima de tudo, chamativas do ponto de vista do que elas podiam entregar para além do gameplay, também chamando a atenção no visual e na trilha sonora. A Megapixel focou em títulos bem antigos mas que conseguem entregar, mesmo com bastante comprometimento técnico em comparação aos hardwares de hoje em dia, uma experiência visual muito mais coesa e agradável do que os gráficos atualizados e completamente genéricos dos remakes.

No caso do HotD2, a série é conhecida justamente por utilizar a temática de zumbis em um universo que aposta mais no cômico, mirando e atirando (piadas à parte) em filmes trash dos anos 80 e 90 do que em ser um título sério como um The Last of Us da vida. Os diálogos do jogo são propositalmente entregues com a mesma empolgação que eu tenho ao ler a fatura do meu cartão de crédito e, no final da experiência original, você está mais entretido com os absurdos do jogo e o gameplay viciante do que com qualquer coisa. Apesar de ser deliberadamente tosco, é um tosco com muita consciência de si e que entrega, para além disso, gráficos que eram bem bonitos à sua época e que, ao mesmo tempo, conseguiam transmitir a mensagem original do jogo que era usar a estética do terror para passar uma sensação de aventura e ação, pegando um pouco do que há de mais bizarro no gênero zumbi, mas sem sair dos moldes do que são o cômico e o absurdo nesse universo.

Voltando ao remake, o que temos aqui é um total desprendimento de querer entregar uma coesão similar ao original e isso é perceptível nos primeiros minutos. Visualmente, os cenários não são feios e, sem muito esforço, entregam texturas muito mais definidas que a versão original por uma questão óbvia. Mas todo o restante deixa demais a desejar. A coesão é quase inexistente e muito fora do tom: inimigos e humanos parecem modelos de jogos completamente diferentes num mesmo pacote. As animações conseguem ser ainda mais travadas que a versão original de The House of the Dead 2 e inexistentes em vários momentos. Os modelos simplesmente giram 180 graus do nada ou não são animados, entre outros detalhes que deixam a quebra estética entre gráficos mais “realistas” com animações completamente travadas ainda piores. O que propositalmente parecia entregar algo “tosco”, porém com substância, por sua vez, entrega apenas a sensação de desleixo no remake. E isso é ainda mais perceptível quando as animações, movimentos labiais e gráficos do primeiro remake de The House of the Dead parecem muito mais desenvolvidos que a sua continuação.

Graficamente o jogo também não se decide qual a coloração ele quer entregar: os tons são completamente diferentes do original, o que não é um problema per se, mas quase sempre entregam imagens muito escuras, sendo impossível enxergar os zumbis na sua frente, ou totalmente dessaturadas, parecendo um jogo de início de geração PS3 e Xbox 360. Trata-se de uma salada mista, cada fase tem um tom de cor completamente diferente e nada se encaixa de uma maneira correta e coesa. Infelizmente, muito da iluminação do jogo e dos tons de cores entregam aquele visual que, quase sempre, é visto como aqueles jogos feitos de forma padronizada, com assets pré-feitos, o que parece ser exatamente o caso descrito aqui. A atualização de lançamento do jogo fez algumas mudanças na coloração, ajustando detalhes das fases, mas ainda não foi o suficiente na maior parte dos casos.

Na parte sonora, os diálogos também foram refeitos e entregam uma sensação um pouco similar à experiência original, apesar de não serem nem de perto tão engraçados quanto. Já as músicas receberam um tratamento mais moderno também – mas não apresentam nada tão relevante ou em especial assim. Pelo menos é possível mudar o áudio das músicas para a versão original e ir alternando entre as sessões de gameplay para não deixar o jogo cair na mesmice.

Por fim, a experiência do jogo se mantém praticamente idêntica à original, porém em uma roupagem mais moderna, de forma totalmente questionável e preguiçosa. Algumas opções novas são bem-vindas, como poder mudar a forma de usar o controle, seja com os analógicos ou com o giroscópio, além de opções de acessibilidade para mudar a cor, a velocidade do cursor e o tamanho da mira. Também há uma opção para verificar os extras coletados ao longo do jogo, espalhados em uma pequena salinha que exibe os itens e explica um pouco sobre a ambientação do jogo, o que é bacana. Mas, mesmo assim, são detalhes insuficientes para tirar o gosto mais que azedo desse remake.

Eu e os parça

Sofrendo como G sofreu

The House of the Dead 2 mostra que a Megapixel se parece com uma pessoa que nunca aprende com os seus erros: a empresa já está há anos executando o mesmo tipo de trabalho com franquias clássicas, recauchutando em experiências que parecem feitas para manchar a obra original e questionar se elas seria tão clássicas assim. O que resta é a produção de uma obra atualizada que não é o suficiente para agradar nem os fãs, muito menos os novos jogadores.

O problema está presente em todos os jogos que passaram pela mão da empresa e o THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake, por incrível que pareça, é o jogo com o pior polimento até o momento. Tudo o que é apresentado aqui e que parece ser minimamente divertido é de crédito da versão original, salvo pouquíssimos acertos do remake, como a possibilidade de ajustar o controle de acordo com o que for menos doloroso para a experiência do jogador.

Não é um jogo injogável, pelo contrário, as sessões rápidas e a possibilidade de sempre habilitar algo novo a cada gameplay têm um certo potencial para manter o jogador ativo até habilitar tudo, mas o descaso com uma franquia mais que clássica é tão notório que todo o restante do pacote faz qualquer elogio ao remake parecer algo absurdo.

No final, infelizmente o que sobra ao THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake é tratá-lo da mesma forma que a Megapixel parece ter tratado o jogo: com completo desprezo.

Que Deus tenha piedade de nossas almas quando o remake de Panzer Dragoon II Zwei sair, já que ele está em produção pela mesma empresa. Esse sim, vai doer demais.

Esta análise é baseada na cópia de PlayStation 5 fornecida pela Forever Entertainment.

Nossa, que sapão 🐸

 

THE HOUSE OF THE DEAD 2: Remake
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