Concord – Análise

Gabriel, vulgo Buda (@budabyte)
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Concord é o primeiro título produzido pela Firewalk Studios, adquirido pela Sony em 2023, mas que já trabalhava em parceria desde 2021. Quando o jogo teve sua primeira gameplay apresentada, muitas pessoas torceram o nariz: esperava-se um título espacial narrativo, mas o que se recebeu foi algo completamente diferente – um hero shooter live service, um tipo de jogo que atualmente é visto com certo desgosto pela comunidade gamer devido à quantidade de títulos similares. Agora, graças à PlayStation Brasil, podemos conferir Concord. E aí, será que merece o hate que está sofrendo ou há algum ponto positivo a ser extraído da experiência? Confira mais nesta análise!

História com potencial desperdiçado

Concord inicia com uma cutscene relativamente bonita, à la Guardiões da Galáxia. Os personagens apresentados se tornam Freegunners e fazem parte da tripulação Estrela-do-Norte, cujo objetivo é basicamente caçar espólios pela galáxia. As animações faciais são bem-feitas, e a dublagem se encaixa bem com os personagens, pontos que realmente não posso reclamar.

O problema é que a cutscene inicial de Concord cria uma esperança desnecessária no jogador. Pensei que a história do universo seria contada através de cenas em momentos específicos, mas não: temos o chamado Guia Galáctico para isso, que se resume a textos para ler. Conforme jogamos e subimos de nível, desbloqueamos mais registros e entendemos melhor a lore. No final, é apenas uma forma desinteressante e nada instigante de contar histórias – no mínimo, decepcionante.

Os personagens também não oferecem carisma algum. Apesar de, como em todo hero shooter, terem suas frases de efeito engraçadinhas, o grupo como um todo é bem genérico. Em um mundo onde temos Overwatch, com diversos personagens icônicos, e futuramente Marvel Rivals, com figuras lendárias do universo dos heróis, Concord não faz esforço algum para se destacar nesse quesito, seja no carisma, no visual ou na história de seus heróis.

UN1QU0, Vale, Lennox e Astérion / Reprodução: Autor

Gameplay funciona relativamente bem

Um dos pontos mais positivos de Concord é certamente sua gameplay. Com ex-desenvolvedores de Call of Duty e Destiny, a equipe da Firewalk conseguiu criar um ótimo gunplay. A sensação de atirar é satisfatória, e o impacto de cada arma é bem perceptível. As skills são simples de usar e não exigem muita análise para entender seu funcionamento.

Um ponto em que Concord se diferencia completamente de outros hero shooters é nas classes. Aqui, não existem as tradicionais DPS, tank e healer, mas sim classes que lembram mais shooters rápidos. Temos personagens focados na movimentação, na manipulação do cenário, aqueles que abrem caminho para os outros, entre outros. Também não há limitação de personagens por classes como em Overwatch, permitindo montar um time inteiro de um só tipo de classe. Pode ser um ponto discutível, mas, a meu ver, é um diferencial agradável.

É aí que entra uma das principais mecânicas do jogo: o bônus de tripulação. Basicamente, Concord te força a jogar com todos os personagens, já que cada um oferece um bônus específico, e trocá-lo durante a partida faz com que os bônus se acumulem. Um exemplo: ao selecionar um personagem da classe âncora, obtém-se o bônus de maior cura. Ao trocá-lo, esse bônus permanece ativo, permitindo acumular até 6 bônus no total, possibilitando montar uma build poderosa com determinados personagens. Essa é uma mecânica muito interessante, mas mal explicada dentro do jogo, sendo, no entanto, crucial para vencer partidas.

Classes e bônus de tripulação, no canto superior esquerdo / Reprodução: Autor

O game é separado em três playlists: Pancadaria, o clássico mata-mata em equipe; Superação, onde devemos capturar e defender objetivos; e Rivalidade, que entrega uma pegada mais competitiva, na qual o jogador não ressurge em caso de morte. Os modos de jogo dentro dessas playlists seguem essa base, com algumas variações, como mais zonas de captura ou partidas baseadas em rodadas. Senti falta de mais variedade de modos, algo que talvez seja introduzido nas temporadas seguintes ao lançamento.

Os mapas, infelizmente, não são dos melhores. Embora simples, costumam ser grandes, complicando a vida dos que buscam ação constante. Levamos alguns segundos até chegar ao local onde o tiroteio está rolando. Isso também reflete na quantidade de eliminações necessárias para vencer uma partida de mata-mata em equipe, por exemplo, onde são necessárias apenas 30 mortes, bem diferente de outros jogos que podem exigir até 100 mortes.

Acertou nos visuais, sem segredo

Como mencionado no início, Concord possui cutscenes bonitas, e o mesmo se aplica à gameplay. Apesar de não ser algo de outro mundo – já que o algo comum de todo hero shooter é rodar na maior parte dos hardwares possíveis –, o gráfico é agradável e colorido, com texturas e iluminação de boa qualidade, principalmente nos personagens, que têm ótima definição. Uma pena que, apesar dos bons gráficos, não se pode dizer o mesmo das skins. Concord não acompanha outros jogos do gênero e oferece apenas cores diferentes para os personagens e suas armas, sem grande variedade. Tenho pena de quem pagou pela Deluxe Edition e acabou recebendo apenas uma corzinha diferenciada.

Gráfico de Concord é bonito / Reprodução: Autor

A parte de áudio não é diferente. Apesar de não contar com uma trilha sonora relevante (o que, confesso, nem me interessa em um jogo do gênero), o som durante as partidas funciona muito bem. Efeitos sonoros, como os de tiros e habilidades, são agradáveis de ouvir, e o áudio dinâmico é ótimo, sendo fácil detectar de onde vêm os passos dos inimigos pelo fone de ouvido. Vale destacar também a excelente dublagem, algo que sequer imaginava ver por aqui.

Infelizmente, o jogo sofre um pouco com lag devido ao ping. Não consegui confirmar se Concord possui servidores no Brasil ou mesmo na América do Sul, mas provavelmente não. Em boa parte das partidas, meu ping estava no amarelo ou vermelho, causando desvantagem em relação a outros jogadores, que pareciam americanos, com base em seus nomes. Fica a dúvida: faltam servidores por aqui ou estão me mandando para a América do Norte por falta de jogadores?

Poucas variações de skins, que se resumem a cores diferentes / Reprodução: Autor

Tem suas qualidades, mas precisava existir?

Concord é, sem dúvida, um dos jogos mais complexos de 2024 (pelos motivos errados) e poderia até virar um estudo de caso. Se tivesse sido lançado anos atrás, logo após o primeiro Overwatch, quem sabe poderia ter feito certo sucesso. O problema é que estamos em um momento de cansaço com jogos live service, e, para piorar, estão cobrando R$ 200 nessa brincadeira.

A estratégia da Sony com seus live services é complicada. Até o momento, Helldivers 2 foi um sucesso estrondoso, pois não havia nada muito semelhante a ele. Concord, por outro lado, já se provou um fracasso no número de jogadores. E como ficam os futuros jogos live service da Sony? Quem se lembra de Fairgame$, live service anunciado em 2023 pelo Haven Studios, que tem aparenta ser um tipo de Payday? Será que há espaço no mercado atual, custando preço cheio? É algo que a Sony deve analisar com cuidado, pois, caso contrário, a chance de boa parte desses jogos fracassarem é altíssima.

A conclusão é que Concord poderia ser mais. Existem qualidades, e é possível se divertir; a gunplay é gostosa, mas faltou carisma, faltou alma, algo que vimos em outros hero shooters e que Concord sequer chegou perto de entregar. No final, tudo isso certamente serviu de lição para a Firewalk Studios e para a Sony. Agora, é aguardar as cenas dos próximos capítulos.

Por fim, caso tenha ficado curioso, o Alan (@Alanzice) fez uma live conferindo sua primeira experiência com o jogo. Você pode conferir logo abaixo:

Concord
6.5
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