Pocket Bravery é um jogo de luta 2D desenvolvido pelo estúdio brasileiro Statera Studio, que se destaca por unir uma estética charmosa em pixel art com um sistema de combate complexo, técnico e altamente inspirado nos clássicos do gênero. Em meio à onda de jogos de luta com visual realista ou estilizado em 3D, o game aposta em personagens com aparência chibi e um visual retrô-moderno que, à primeira vista, pode parecer casual demais, mas que rapidamente revela sua verdadeira natureza: um jogo exigente, refinado e feito com atenção minuciosa aos detalhes de jogabilidade.
Meia-lua pra frente e…
A mecânica do jogo é, sem dúvida, seu ponto mais forte. Ele incorpora elementos consagrados de franquias como Street Fighter, The King of Fighters e Guilty Gear, mas os aplica com uma identidade própria. Cada personagem possui afinidade com um elemento – como fogo, gelo, raio, vento –, que influencia sua forma de combate e afeta seus golpes especiais, chamados de Ataques Elementais. Esses ataques não são apenas efeitos visuais, mas impactam diretamente a dinâmica das batalhas, sendo cruciais tanto para ataques quanto para defesa.
A construção dos combos também é muito técnica: há espaço para cancels, links, resets e outras ferramentas avançadas que permitem que jogadores mais experientes criem sequências elaboradas. Além disso, o jogo inclui mecânicas defensivas como breakers e parries, que adicionam profundidade e equilíbrio às lutas, recompensando reflexos e leitura de jogo.
Apesar de toda a sua solidez, Pocket Bravery conta com um elenco inicial de personagens relativamente enxuto. Cada lutador é bem projetado, com estilos e personalidades distintos, mas a limitação nas opções pode impactar a longevidade da experiência para quem joga com frequência ou busca uma maior variedade de estilos. A promessa de DLCs com novos personagens causa certo incômodo: ao sinalizar conteúdo extra desde o início, os desenvolvedores passam a impressão de que o jogo foi lançado incompleto – e essa ausência é perceptível, especialmente quando comparado a títulos mais consolidados do gênero.
O elenco de personagens é carismático e bem desenhado, com lutadores que se diferenciam tanto no estilo de luta quanto em design e personalidade. Posso citar o protagonista Nuno, um personagem equilibrado com ataques de fogo; Mingmei, uma especialista em Kung-Fu que utiliza o poder de um dragão e Arshavin, um russo especialista em ataques físicos que busca a fama acima de tudo. Cada um traz não apenas habilidades distintas, mas também movimentos especiais e “supers” que variam em efeito e estilo conforme o elemento do personagem.
Pano de fundo, daqueles bem vagabundos
A história de Pocket Bravery é centrada em Nuno, um jovem de espírito justo e corajoso que se vê enfrentando uma misteriosa organização criminosa chamada Matilha. Ao longo do modo história, conhecemos outros lutadores, cada um com seus próprios dilemas, rivalidades e motivações pessoais, dentro de uma narrativa inspirada nos animes de ação do tipo shounen. A ambientação brasileira é um grande diferencial, presente tanto nos cenários quanto nos diálogos, que utilizam gírias e referências, criando uma atmosfera única e muito autêntica.
No entanto, o modo história não possui profundidade narrativa. Embora os personagens sejam cativantes e o pano de fundo seja funcional, o desenvolvimento da história é superficial e os arcos individuais são curtos demais para criar um envolvimento emocional mais forte com os protagonistas ou vilões. O enredo cumpre seu papel de contextualizar os confrontos, mas não vai além disso. Para jogadores que apreciam histórias ricas e complexas em jogos de luta – como nas campanhas de Mortal Kombat ou Guilty Gear – o conteúdo aqui pode parecer limitado.
Quero mais!
Pocket Bravery apresenta uma seleção sólida de modos tradicionais. O modo Arcade oferece uma sequência clássica de lutas com finais para cada personagem, enquanto o modo História traz arcos individuais com cenas e diálogos personalizados. Há também o modo Versus (local), um robusto modo de Treinamento, um modo Desafio com missões de combo que ajudam o jogador a dominar as mecânicas de cada personagem, e, claro, o modo Online com partidas casuais e ranqueadas.
O online é um destaque positivo: garantindo fluidez nas partidas mesmo em conexões medianas. Isso mostra que a Statera Studio pensou na cena competitiva ao projetar o jogo.
Ainda assim, nota-se a ausência de modos complementares que ajudariam a expandir a experiência. Não há, por exemplo, modo survival, time attack, torneios locais automatizados ou elementos sociais mais avançados no online, como lobbies com avatares, replays detalhados ou modo espectador. Isso limita a interação comunitária e o envolvimento prolongado fora das partidas em si.
Pontos técnicos de tirar o chapéu
A direção de arte de Pocket Bravery aposta em uma pixel art moderna e vibrante, com animações suaves e personagens em estilo chibi que, apesar do ar cartunesco, não comprometem a seriedade do combate. Pelo contrário: o estilo visual funciona muito bem na leitura de movimentos, sendo limpo, expressivo e fácil de interpretar em tempo real – essencial em jogos de luta.
Os cenários são ricos em detalhes e homenageiam vários elementos da cultura brasileira e mundial. Cada estágio tem uma paleta de cores bem trabalhada e boa variedade, criando uma ambientação visual rica sem tirar o foco das lutas. A única ressalva que pode ser feita é que, para alguns jogadores, o estilo chibi pode parecer menos impactante ou expressivo se comparado a jogos com gráficos mais realistas ou com modelos 3D detalhados. Mas dentro de sua proposta artística, o jogo acerta em cheio.
Além disso, a trilha sonora de Pocket Bravery é enérgica e bem produzida, com faixas que acompanham bem o ritmo das lutas e ajudam a construir a identidade dos personagens e cenários. Os temas têm variações rítmicas que lembram jogos de luta dos anos 90, e algumas faixas trazem uma leve influência de ritmos brasileiros, contribuindo para a originalidade.
Em relação à localização, a experiência é ímpar: menus, legendas e textos estão inteiramente em português do Brasil, com adaptações bem-humoradas, expressões regionais e um cuidado claro em manter a identidade nacional do projeto.
A new challenger
Pocket Bravery é uma das maiores surpresas do cenário indie brasileiro e uma grata adição ao gênero de jogos de luta. Com uma jogabilidade sólida, rica e uma estética própria e carismática, o título se firma como uma proposta diferenciada em meio aos grandes nomes do gênero. Ele é acessível para iniciantes, mas guarda profundidade suficiente para agradar jogadores competitivos e veteranos.
Contudo, ele ainda está em evolução. O elenco inicial reduzido, a simplicidade do modo história, a ausência de alguns modos extras e as limitações do modo online em termos de recursos sociais são aspectos que o impedem de atingir o mesmo patamar de conteúdo que grandes franquias oferecem. Mas isso não tira seu mérito: Pocket Bravery tem alma, personalidade, competência técnica e, acima de tudo, uma base sólida para crescer com o tempo.
Se você procura um jogo de luta com muito estilo, forte identidade cultural, combates precisos e um enorme potencial competitivo, Pocket Bravery é uma escolha que merece sua atenção. Posso afirmar que – ao contrário de algumas bombas por aí – o game é um motivo de orgulho para a cena de desenvolvimento de jogos no Brasil.
Esta análise é baseada na cópia de PS5 fornecida pela PQUBE.