A existência de Gori: Cuddly Carnage me pegou completamente de surpresa. Gatos e cyberpunk são duas coisas que amo demais, e, apesar de não ser novidade, visto que Stray existe, sempre quis ver essa combinação novamente em ação, de preferência em algo que fornecesse um pouco mais de gameplay. Agora, finalmente, tive meu desejo saciado. Acompanhe nesta análise uma caótica aventura de um gato, um hoverboard que não cala a boca por um minuto e uma nave espacial que precisa consultar um psicólogo com urgência.
História incrivelmente boa
Assim como em todo universo cyberpunk, uma corporação costuma ser o estopim para o caos. Em Gori: Cuddly Carnage, o mundo foi tomado por Ultra Pets, brinquedos assassinos criados pela empresa Cool-Toyz Inc. Nosso protagonista, Gori, é um desses casos: ele foi um brinquedo protótipo criado pela Professora Y e passou boa parte de sua vida escondido, visto que era considerado um projeto falho. Após ver sua dona ser raptada, Gori parte numa jornada com F.R.A.N.K., um hoverboard boca suja do cara***, e CH1-P, uma inteligência artificial que controla a espaçonave de Gori (e que certamente precisa de terapia), para resgatar a Professora Y das mãos da Adorable Army, o exército de brinquedos assassinos.
Como vocês puderam notar, a história é uma maluquice, mas funciona incrivelmente bem. Apesar do objetivo de Gori parecer simples, recebemos explicações detalhadas sobre o passado da Professora Y a cada nova fase, através de cutscenes na pegada de história em quadrinhos, o que instiga o jogador a querer descobrir o que aconteceu. Não esperava esse grau de profundidade num jogo que não se leva tão a sério, e confesso que fui pego no pulo. Vale destacar também os diálogos incríveis entre F.R.A.N.K. e CH1-P, que certamente não foram feitos para menores de 18 anos, pois o nosso hoverboard adora falar palavrões e frases de duplo sentido.
Glória aos hack ‘n’ slash
Gori: Cuddly Carnage é um hack ‘n’ slash em sua essência. Vamos fatiar inimigos a todo instante, buscando manter nosso ranking de matança o mais alto possível, assim como em todo jogo do gênero. O diferencial aqui é que temos trilhos para realizar grind. Seja matando ou grindando, ambas as mecânicas fornecem combustível, utilizado em golpes especiais necessários para derrotar determinados inimigos. Para ir bem no game, devemos explorar todas as mecânicas possíveis, o que torna a experiência bem divertida e diversificada. O único ponto negativo que detectei durante minha gameplay foi ao utilizar a câmera fixa, que muitas vezes pode fazer Gori cair do mapa em cenários abertos, causando um pequeno dano à nossa vida. Confesso que me irritou um pouco, mas nada que atrapalhe muito a jogatina.
Podemos adquirir melhorias, skins para Gori e F.R.A.N.K., e filtros do modo foto através da loja de brinquedos da Cool Toyz. Tirando as três melhorias iniciais, que não têm custo, todo o restante pode ser comprado com moedas deixadas pelos inimigos ao morrerem ou por objetos quebrados durante a gameplay. No decorrer de cada fase, também encontramos 3 pedaços de chave que, no geral, são fáceis de localizar e servem para desbloquear novas salas na nave. Também há desafios de pontuação e tempo em cada fase, que possibilitam conseguir 14 unicórnios puros, liberando a última sala da nave.
Vale lembrar também que o jogo é completamente linear, com pouquíssimos desvios de caminho durante as fases, o que, pra mim, não é nenhum problema. Pessoalmente, estou cansado do excesso de jogos de mundo aberto na indústria, e experiências lineares e de menor duração servem muito bem em momentos como esse. Assim como RKGK, outro jogo analisado aqui na GameFM, Gori faz questão de lembrar os tempos áureos do PlayStation 2, onde o foco não era “fazer mais”, mas sim trazer diversão ao jogador.
Vale mencionar que algumas fases podem apresentar um design cansativo. Na terceira fase, por exemplo, precisamos energizar algumas portas para destravá-las e seguimos sempre o mesmo roteiro: limpar os inimigos da área e atirar em objetos o mais rápido possível. Pode parecer simples (e realmente é), mas, quando lembramos que as fases costumam durar entre 30 a 45 minutos, é algo que pode se tornar maçante.
Um caos de cores vibrantes
Gori: Cuddly Carnage é certamente um dos títulos mais impressionantes que joguei no ano de 2024 no quesito visual. O jogo é completamente insano, oferecendo cores como rosa, azul e verde (comuns no gênero cyberpunk) de forma extremamente saturada e vibrante. A presença de diversos neons no mundo do game cria cenários deslumbrantes, principalmente quando essa iluminação interage com os reflexos no chão. Ah, e tudo isso sem ray tracing, viu? O único porém são engasgos ocasionais que ocorrem aleatoriamente, e isso parece não ser um problema só meu, pois mais pessoas estão reclamando do mesmo na comunidade. Ainda assim, não chega a atrapalhar tanto a experiência.
Os inimigos do jogo também merecem um destaque à parte. Vai ter unicórnio com lâminas, unicórnio dando tiro, unicórnio gigante, gosmas que explodem, e, obviamente, não posso deixar de mencionar os chefões, como um olho gigante que tem uma boca ou uma boneca assustadora que parece ter saído diretamente de um filme de terror. E o melhor: todos podem ser dilacerados, transformando o cenário numa grande carnificina. O nome Gori não é à toa, né?
Por fim, a trilha sonora também merece elogios. A quantidade de músicas disponíveis no game é grande e consiste numa mistura de rock, eletrônica e sons assustadores distorcidos. Tudo isso contribui para a gameplay frenética do game e certamente empurra o jogador nos momentos de combate. Vale mencionar também a incrível dublagem (em inglês). F.R.A.N.K. e CH1-P têm suas emoções muito bem representadas pelos respectivos dubladores, o que deixa a experiência ainda mais interessante.
It’s a cat on a hoverboard fighting unicorns
Gori: Cuddly Carnage é um dos títulos mais divertidos e descontraídos que joguei neste ano. Experiências como essa botam um sorriso no meu rosto e me lembram muito dos tempos em que videogame só tinha o objetivo de divertir. O fato do jogo ser um hack ‘n’ slash também o fez subir no meu conceito, visto que é um gênero que amo, mas está em decadência. Junte isso ao carismático grupo de personagens e a uma história surpreendente, e teremos um jogo sólido.